Notícias

PM mata indígena em fazenda de indicada à comissão de conciliação do Marco Temporal 65g42

Fazenda da antropóloga Roseli Ruiz fica dentro de terra indígena e era alvo de retomada; ela produz laudos contra demarcações e foi indicada à comissão no STF pelos partidos PP, PL e Republicanos

Gabriel Tussini ·
19 de setembro de 2024

Uma ação da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) na Fazenda Barra, em Antônio João (MS), terminou com o indígena Neri Guarani-Kaiowá assassinado e outra indígena ferida na madrugada desta quarta-feira (18). A fazenda pertence a Pio Queiroz Silva e sua esposa Roseli Maria Ruiz – que foi indicada pelos partidos PP, PL e Republicanos como “expert”, na condição de antropóloga, a ser ouvida na próxima sessão da Comissão Especial que discute, no STF, o Marco Temporal, como adiantou a coluna de Lauro Jardim em O Globo.

Segundo denúncia dos indígenas ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), “mercenários” estariam junto aos policiais na repressão à retomada da fazenda, localizada no interior da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu – que, após pedidos de anulação, teve sua demarcação confirmada pela Justiça, porém com autorização de permanência de fazendeiros, segundo o Cimi. Em 2015, outro indígena guarani-kaiowá, Simião Vilhalva, foi assassinado na propriedade, desta vez por fazendeiros que atacaram por conta própria outra tentativa de retomada.

A presença da PM na fazenda foi determinada pelo juiz federal Ricardo Duarte Ferreira Figueira, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã (MS). Na decisão, assinada na tarde da última sexta-feira (13), o juiz acata o pedido feito pela advogada (e filha) dos fazendeiros, Luana Ruiz Silva de Figueiredo – que também é assessora da Secretaria de Estado da Casa Civil de Mato Grosso do Sul e 1ª suplente de deputada federal pelo PL no estado – para que as forças policiais atuem na fazenda (reafirmando outra decisão do ano ado) e também na estrada que dá o a ela, apontando uma “animosidade do grupo indígena”. Também foram oficiados o Ministério Público Federal, a FUNAI e o Ministério dos Povos Indígenas.

Indígena Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu em ação policial realizada na manhã desta quarta-feira (18). Foto: Povo Guarani Kaiowá/Reprodução

Não é a primeira vez que a Fazenda Barra é alvo de tentativas de retomadas por parte dos indígenas. A origem da disputa, como narrou o El País em 2015, é a alegação dos guarani-kaiowá de que o pai de Pio Queiroz Silva, Pio Silva, expulsou indígenas da área na década de 1950 após comprar as terras do governo estadual – o que a família nega. A fazenda é a última propriedade particular dentro da TI Ñande Ru Marangatu que não foi retomada pelos indígenas, segundo o Cimi.

Ainda em 2015, o Exército atuou na região da fazenda por meio de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) autorizada pela então presidente Dilma Rousseff (PT), a pedido do então governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Dias antes da GLO, uma retomada indígena foi atacada por fazendeiros que saíram de uma reunião no Sindicato Rural de Antônio João, presidido à época (e até hoje) por Roseli Ruiz. No confronto, o indígena Simião Vilhalva foi assassinado.

Dona da fazenda e convidada para a comissão que discute o Marco Temporal no STF, Roseli Ruiz se especializou em antropologia justamente para produzir laudos contra demarcações, como detalhou a Folha de São Paulo ainda em 2013. “Fui invadida em 1998 e, no ano seguinte, fui fazer Direito para entender esse desmando. No decorrer do curso detectei que o que estava fundamentando não era a legislação, e sim um relatório antropológico”, explicou à época.

Além dela, os partidos PP, PL e Republicanos indicaram para ser ouvidos na próxima reunião da Comissão Especial que discute o Marco Temporal no STF, na condição de especialistas, o ex-ministro Aldo Rebelo – historicamente contrário a demarcações – e o jornalista Lorenzo Carrasco – autor de livros como “Quem manipula os povos indígenas contra o desenvolvimento do Brasil” e “Cimi: filho da mentira”.

Como mostramos no fim do mês ado, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) se retirou da comissão, em protesto, alegando que os indígenas estavam sub-representados e que os direitos dos povos originários não poderiam ser discutidos numa comissão de conciliação – na qual um acordo sequer dependeria da anuência deles, mas sim da concordância da maioria dos membros.

  • Gabriel Tussini 5a4y6a

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

Leia também 1b437

Salada Verde
9 de setembro de 2024

Conciliação do marco temporal continuará, mesmo sem representação indígena, decide Gilmar Mendes 46244t

Comissão de conciliação prosseguirá 'com quem estiver à mesa', decide ministro. Principal representação indígena se retirou em protesto por ausência de paridade

Notícias
29 de agosto de 2024

Em protesto, Apib se retira de conciliação sobre Marco Temporal no STF b44i

Organização alega que processo não tem legitimidade por decidir direitos fundamentais de indígenas por maioria de votos em uma comissão em que eles são minoria

Reportagens
30 de julho de 2024

MJ confirma que está sem declarar novas terras indígenas devido à indefinição sobre marco temporal  2u4d6h

Pasta é responsável por declarar os limites das terras indígenas. O ministério atribui a demora às ‘sucessivas mudanças no marco jurídico de demarcação’, incluindo a aprovação do marco temporal no Congresso e a decisão do STF contrária à tese

Mais de ((o))eco 386al

ICS 6p4522

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 3p1w31

Notícias

Cerrado perdeu 1.786 hectares de vegetação nativa por dia em 2024, mostra Mapbiomas 241h5k

Notícias

Governo Federal embarga 544 propriedades com ilícitos ambientais em Altamira 5i2w6p

Reportagens

Orçamento para meio ambiente é 11 vezes menor que recurso destinado a emendas parlamentares 3t2yl

terras indígenas 4s7353

Análises

O direito dos Mbya Guarani de manejar seu território sobreposto pela Rebio Bom Jesus 1m3r3

Reportagens

Cientistas e ongs criticam acordo que mantém caça numa reserva biológica de Mata Atlântica 6t5d3w

Notícias

Liminar federal barra ocupações de indígenas no Parque Nacional do Iguaçu 221kk

Salada Verde

Lewandowski assina portarias declaratórias de 7 terras indígenas em SP 1ok5c

política ambiental 5n5325

Notícias

PV questiona no STF lei estadual que flexibiliza proteção ambiental em Rondônia 131a24

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas p4l5i

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 4675f

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 3p1w31

marco temporal 6bdk

Reportagens

Para substituir Marco Temporal, Gilmar Mendes propõe mineração em terras indígenas até contra vontade dos povos 175d4d

Reportagens

Gilmar Mendes propõe liberar mineração em terras indígenas, acolhendo sugestão de advogado da Potássio do Brasil 1gxd

Notícias

Apib se distancia de novos representantes indígenas da comissão do Marco Temporal no STF 4oj6p

Salada Verde

Conciliação do marco temporal continuará, mesmo sem representação indígena, decide Gilmar Mendes 46244t

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.