Há alguns dias conversei por e-mail com o metereologista Thomas Bell, pesquisador do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, sobre um estudo realizado por sua equipe que relaciona qualidade do ar com maior incidência de raios. Segundo resultados preliminares do estudo – que está sendo revisado pela revista científica Geophysical Researche Letter e deve sair do forno em breve – em locais poluídos, como as grandes cidades, as chances de ocorrerem raios são de 10% a 20% maiores do que em ambientes cujo ar é livre de poluentes. Tudo por causa das partículas de poluição, emitidas principalmente por fontes veiculares e industriais, que “atraem” as gotas de chuva, dificultando sua precipitação.
A área pesquisada por Thomas Bell foi o sudoeste dos Estados Unidos, mas, durante nossa troca de mensagens, me lembrei que não muito longe dali ocorre fenômeno semelhante. E não estou falando de São Paulo, cidade mais poluída do Brasil. A área que me refiro é a Amazônia que, todos os anos, nos meses de seca, sofre com as queimadas. Segundo Karla Longo, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a fumaça das queimadas também altera, e muito, o sistema de chuvas, não só no local onde elas ocorrem.
Durante a realização do projeto A Trajetória da Fumaça, que traz um raio-X da problemática do fogo na maior floresta tropical do país, Karla explicou que isso ocorre porque uma nuvem normalmente tem aerossóis que funcionam como núcleos de condensação, formadores de gotas que crescem até se precipitar. Se numa situação há mais núcleos de condensação (mais partículas emitidas pelas queimadas), o número de gotas será muito maior. Como a quantidade de água no ambiente é fixa, as gotas serão mais numerosas e menores, e não vão precipitar.
Os temas se interligam por alguns aspectos em comum, mas um deles se sobressai. Tanto na Amazônia como no sudoeste dos Estados Unidos, estas mudanças nos fenômenos metereológicos estão diretamente relacionadas com as ações do homem sobre a natureza. Seja andando de carro, queimando combustíveis fósseis ou colocando fogo na mata. (Cristiane Prizibisczki)
Leia também o blog A Trajetória da Fumaça.
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