Reportagens

Sinop Dia 2 – Sobrevoando a maior floresta do mundo 2z2k3

A tecnologia joga a favor do Ibama, capaz de detectar por satélite, helicóptero e por terra as feridas que os desmatadores deixam na mata.

Fábio Pellegrini ·
31 de outubro de 2012 · 13 anos atrás
O Fiel aponta esplanada onde agentes por terra encontraram maquinário ilegal. Clique nas fotos abaixo para ampliar.(Fotos: Fabio Pellegrini)
O Fiel aponta esplanada onde agentes por terra encontraram maquinário ilegal. Clique nas fotos abaixo para ampliar. Fotos: Fabio Pellegrini

Feliz Natal (MT) – Na terça-feira (30), 8h da manhã, saímos do hotel na caminhonete do Ibama para encarar 45 km rumo ao leste, em estrada de chão, de volta ao local da apreensão realizada ontem, parte da operação Soberania Nacional, que ((o))eco está acompanhando in loco. A ordem do dia é realizar um sobrevoo no helicóptero do Ibama.

A equipe de agentes que ou a noite na mata guardando o maquinário apreendido na véspera — 5 tratores e um caminhão – está na sede da fazenda mais próxima, aguardando a carreta que transportará o equipamento confiscado até o depósito do Ibama em Sinop. O trabalho continua sob responsabilidade de outras equipes e com o apoio do helicóptero.

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A fazenda é típica para a região. Tem um silo para armazenamento de grãos, a sede, um pequeno escritório comercial, 3 casas de madeira para funcionários e algumas dezenas de árvores de eucalipto de pé e outras tantas já tombadas e transformadas em tora. Ao redor do complexo, uma extensa lavoura de soja, cultura que é um dos principais incentivos ao desmatamento, pois a terra aqui é propícia para plantações de soja e milho. A soja acabou de ser plantada e um funcionário da fazenda aplica defensivos agrícolas sobre os brotos.

Às 10h o helicóptero do Ibama surge a oeste, por detrás de uma área de reserva legal e pousa na lavoura ao lado da sede. O piloto tem o capricho e a habilidade de não deixar que os esquis da aeronave se apoiem e destruam a soja.

Os agentes conversam e, em seguida, nos chamam para embarcar na aeronave. Além de ((o))eco, estão presente equipes SBT local e da Gazeta Digital, de Cuiabá, além da TV Centro América, afiliada da Globo em Mato Grosso. É a minha primeira vez em um helicóptero e sinto, digamos, uma certa expectativa. Mas é maior a gana de realizar as imagens aéreas e conhecer o trabalho da equipe de operações especiais.

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O apoio aéreo à operação Soberania Nacional é fundamental, pois orienta as viaturas por terra. A equipe do helicóptero é composta por 6 agentes: piloto e copiloto cuidam da rota e checam locais previamente marcados nos mapas, fornecidos pelo sistema Deter ( Detecção de Desmatamento em Tempo Real). Há o chamado “Fiel escudeiro”, ou simplesmente “Fiel”, que monitora visualmente a traseira e as laterais traseiras. Ele é o “maestro” do voo, colocando-se para fora da aeronave, quando necessário, e comunicando aos pilotos quaisquer indícios de desmatamento em meio à mata fechada. Outros 3 agentes tratam de marcar os pontos localizados no aparelho de GPS para aferição e posterior cruzamento com os dados do DETER.Estamos prontos. O barulho das hélices se acelerando aumenta e em segundos estamos a dezenas de metros de altura. A saliva desce seca. Logo na subida, a emoção de ver a vastidão da maior floresta do mundo pelo lado aberto do helicóptero, preso apenas pelo cinto de segurança.

Aeronave informa as equipes em terra as melhores rotas para se chegar aos pontos suspeitos Imensas ilhas de baixo relevo, indicando lavouras, quebram a hegemonia verde-escura da floresta.

 

O Ibama está equipado com a tecnologia necessária para essa operação. Ela desequilibra a guerra contra o desmate ao multiplicar o poder de detecção de irregularidades. O outro lado da pinça são as ações legais, como o embargo das áreas degradadas ilegalmente e do maquinário, que destroem a capacidade financeira dos desmatadores.  Por fim, a lei obriga a recuperar as áreas degradadas. Quem opera irregularmente é educado “na marra”, e também aprende que há meios legais, com o manejo adequado, de explorar a madeira ou abrir lavouras.Ao longo do trajeto, o piloto dá explicações pelos fones de ouvido que permitem a comunicação dentro do helicóptero. Há momentos em que a aeronave baixa quase à altura das copas das árvores. O efeito ventilador que produz remexe a folhagem e, assim, permite ao Fiel observar o que ela esconde, na busca por tratores e outros maquinários usados no desmatamento ilegal.  Com essa técnica, o Fiel também consegue descobrir “carreadores”, as picadas abertas para extração de madeira. Quando algo suspeito é detectado, o pessoal de bordo marca no GPS e rea as coordenadas geográficas para as equipes em terra. É um trabalho meticuloso e paciente.

A chamada Esplanada em meio à mata fechada revela como tudo começa. O tamanho da devastação impressiona.

 

É hora de retornar. A insegurança do ageiro de primeira viagem ficou para trás. Observar o trabalho de monitoramento e repressão imbui que é preciso dizer ao Brasil que a sua maior floresta está se esvaindo.A grandeza da floresta, as estradas rasgando a mata até o horizonte, as grandes ilhas de baixo relevo, que caracterizam as lavouras, são impressionantes vistas de cima. Não pelo olhar inédito, mas pelas imensas dimensões.

 

 

Próximo relato dessa reportagem
Dia 3 – O desafio da extração legal

Todos os relatos
Chegada a Sinop – a cidade que um dia foi floresta
Dia 1 – A primeira operação de apreensão a gente nunca esquece
Dia 2 – Sobrevoando a maior floresta do mundo
Dia 3 – O desafio da extração legal
Dia 4 – Uma conversa com o novo prefeito de Feliz Natal
Dia 5 – A relação das pessoas com a madeira
Dia 6 – Em busca de soluções para o desmatamento

 

 

 

  • Fábio Pellegrini 4l4144

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