Reportagens

COP16: expectativas estão em baixa c3s3g

Ao regulamentação do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, Lula diz que redução de desmate na Amazônia em 80% deve ser atingida em 2016.

Nathália Clark ·
26 de outubro de 2010 · 15 anos atrás

Com a presença do presidente Lula, foi realizada hoje, no Palácio do Planalto, a reunião anual do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que apresentou o posicionamento e as expectativas do governo em relação às negociações internacionais na 16ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-16), a ser realizada em Cancun, em novembro.

O ponto alto do evento foi a do decreto de regulamentação do Fundo Nacional Sobre Mudança do Clima. O fundo deve apoiar ações de combate à desertificação, projetos de capacitação, desenvolvimento e difusão de tecnologias, entre outros serviços ambientais, e terá orçamento inicial previsto para 2011 de R$226 milhões. O prazo para instalação de um comitê gestor é de 90 dias.

Além do fundo, foram apresentadas as ações estratégicas voltadas para cinco setores (desmatamento na Amazônia, desmatamento no Cerrado, energia, siderurgia e agropecuária), reunidos no Sumário Executivo dos Planos de Mitigação, e a Segunda Comunicação Nacional à Convenção sobre Mudança do Clima, que oferece um quadro detalhado das emissões brasileiras. Segundo Lula, ela “certamente nos ajudará a tornar o seu monitoramento ainda mais eficiente”.

De olho já na COP-17

Com queda na emissão de gases de efeito estufa em 0,9 giga-toneladas (Gt), o equivalente a 33,6% o governo não apresentou propostas novas quanto aos esforços de redução de emissões. Em 2004, a emissão total foi de 2,675 Gt e em 2009 alcançou-se 1,775Gt. Diante da queda, o governo demonstrou que está mais interessado em acelerar o cumprimento das metas até 2020 (redução entre 36 e 39%).

De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, as expectativas para o encontro em Cancun são modestas e não há perspectiva de um grande acordo sobre os temas mais abrangentes, mas alguns avanços ainda são possíveis. “O Brasil chega na COP-16 com uma moral elevada. Apresentamos metas muito avançadas, servimos de inspiração. Diferentemente de outros países, o Brasil tomou uma posição de vanguarda, posição forte dentre os países em desenvolvimento. E por esse motivo Copenhague não chegou a ser um fracasso total”, considerou.

Amorim crê que o nível das aspirações baixou muito, mas não descarta a possibilidade de novos avanços, “por exemplo, na questão do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), na área de financiamentos, com ampliação do Fundo do Clima”. Mas para ele, sobretudo, a reunião será importante para evitar retrocessos consensuais. “Devemos garantir a continuação das ações iniciadas em Copenhague”, afirmou.

Para Sérgio Resende, ministro da Ciência e Tecnologia, a expectativa de queda a partir da reunião em Cancun é ainda maior, e a redução do desmatamento coloca o Brasil em boas condições para cumprir o compromisso voluntário. No entanto, é preciso reduzir o desmatamento também em outros biomas, além da Amazônia.

Em seu discurso, Lula exaltou as políticas públicas adotadas em seu governo: “A agenda exposta e debatida aqui, voltada para as mudanças climáticas, sintetiza os esforços e os resultados de uma série de ações que vêm sendo conduzidas com sucesso pelo nosso governo, em parceria com amplos setores da sociedade brasileira. Estou falando de ações que vão desde a redução do desmatamento, até a opção por uma agricultura de baixo carbono, e que am pelo fortalecimento de uma matriz energética reconhecidamente limpa e renovável”.

Mantendo o tom de seu discurso desenvolvimentista, o presidente afirmou ser compatível, sim, aliar o combate ao aquecimento global com o crescimento econômico sustentável e com o combate à pobreza e à desigualdade. “O Brasil, mesmo vivendo um momento de grande crescimento econômico, tem o menor índice de desmatamento dos últimos 21 anos”, ilustrou. Segundo ele, se mantivermos esse ritmo, a meta anunciada na COP-15 será antecipada em quatro anos, ou seja, redução de 80% do desmatamento ainda em 2016.

E o Código Florestal?

Sobre o retrocesso que pode trazer as alterações no Código Florestal, se aprovadas pelo Congresso, o ministro interino do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Machado, afirmou que, apesar de concordar com a reavaliação da lei, o governo mantém a posição forte de “não abrir a guarda”.

“Temos consciência de que os dispositivos são atuais, têm garantido a preservação de nossas florestas, mas temos a necessidade de criar novos instrumentos que dêem condição favorável à regularização fundiária e ambiental. Devemos aperfeiçoar a lei, torná-la mais factível à situação brasileira, trabalhar para modernizá-la, o que não significa abrir mão dos seus pressupostos, que é garantir uma agricultura compatível com a conservação e redução das emissões”, disse Machado.

Em oposição ao tom vago de Machado, o secretário-executivo, Luiz Pinguelli, fez questão de colocar a rígida posição do Fórum, desfavorável à mudança: “Quero adicionar um adendo à fala do Machado, e dizer que o Fórum se manifestou contrário à alteração no projeto de lei”. Inclusive, ele confirmou a realização de um seminário em Salvador, com apoio do Fórum Estadual Baiano, ainda em novembro, para uma discussão específica sobre o tema.

Assista a trechos do discurso do presidente Lula


*Nathalia Clark é jornalista em Brasília.

  • Nathália Clark 3v1h3a

    Nathalia Clark é jornalista na área de meio ambiente, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, justiça social e direitos humanos.

Leia também 1b437

Análises
13 de junho de 2025

O falso herói dos mares: por que o GNL ameaça os oceanos e o futuro do Brasil? 374e2p

O Brasil tem demonstrado interesse em investir em navios movidos a gás natural liquefeito, o que contraria as projeções alinhadas com o Acordo de Paris

Salada Verde
13 de junho de 2025

Deputado do PL é novo relator do Projeto de Lei do Licenciamento 356h

O ruralista Zé Vitor, que relatará a proposta no Plenário, votou a favor da primeira versão do PL que ou na Câmara e em de outras 4 propostas que flexibilizam o meio ambiente

Reportagens
13 de junho de 2025

Declínio de animais dispersores de sementes dificulta combate às mudanças climáticas 1i71r

Equipe internacional de pesquisadores faz alerta global para necessidade de incluir frugívoros nas estratégias de conservação, recuperação florestal e mitigação das alterações do clima

Mais de ((o))eco 386al

emissões 2670k

Colunas

O segredo mais bem guardado da política climática brasileira w625b

Notícias

Alegando emergência energética nacional, Trump diz “vamos perfurar!” 1l2m38

Notícias

Confirmado: 2024 foi o primeiro ano em que aquecimento da Terra ultraou 1,5ºC 4e3n39

Notícias

Sociedade civil reforça pedido a Lula por veto em “jabuti” que aumenta emissões 134s20

cop 16 5z2m3c

Colunas

Chegou o momento de implementar 276m23

Reportagens

COP 16: países concentram-se em REDD 3d4853

Reportagens

Uma semana e negociações não avançam 512r1q

Análises

Negociações muito além da COP 16 2i4f66

mudanças climáticas 4jg2j

Notícias

Até 85% da extração planejada pela Petrobras pode não gerar lucro, mostra estudo 1dz5d

Salada Verde

Organizações brasileiras pedem que Lula deixe de comercializar petróleo para Israel 3z2pc

Salada Verde

Evento ambiental reúne diferentes vozes na Lapa c2g3s

Salada Verde

Na ONU, Lula pede por mais proteção aos oceanos para combater mudanças climáticas 41h3s

fauna 4o414o

Reportagens

Depois de mais de 200 anos, araras ganham uma nova chance no Rio de Janeiro 666w28

Notícias

Estudo aponta multiplicação preocupante do peixe-leão no litoral brasileiro 2y2a21

Colunas

Cientistas negras viram a Maré: protagonismo e resistência na ecologia, evolução e ciências marinhas 6m1s35

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção d7343

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.