Reportagens

Baleias vivas geram bilhões de dólares ao país em serviços ecossistêmicos 2z31i

Economistas do FMI estimam que animais valem cerca de 82,5 bilhões de dólares. Cálculo leva em conta captura de carbono, fertilização marinha e turismo

Daniele Bragança ·
4 de maio de 2020 · 5 anos atrás
Observação de baleia em Porto Seguro, Bahia. Foto: Projeto Baleia Jubarte.

Por muito tempo, o valor econômico de uma baleia poderia ser medido pelo óleo extraído do animal morto, usado para iluminar as cidades antes do advento da eletricidade. O que pouca gente sabe é que as baleias vivas também podem ser medidas em termos de ganhos econômicos. E a cifra não é pequena. Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Universidade Duke estimou que as grandes baleias que trafegam pelas águas de jurisdição brasileira são avaliadas em cerca de 82,5 bilhões de dólares.

Os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Universidade Duke (Carolina do Norte) calcularam, a pedido do Projeto Baleia Jubarte e da organização Great Whale Conservancy (GWC), o valor das baleias vivas para o Brasil levando em conta o turismo de observação que existe em torno desses animais, a captura de carbono e a fertilização marinha.

Esse mesmo grupo de economistas havia calculado, em 2019, o valor global dos serviços ecossistêmicos das baleias vivas em cerca de um trilhão de dólares norte-americanos.

Como foi feito o cálculo?

O Projeto Baleia Jubarte e a organização Great Whale Conservancy (GWC) forneceram estimativas das populações de baleias em águas brasileiras. Os economistas do FMI e da Universidade Duke pegaram essas estimativas e calcularam os valores dos serviços oferecidos pelas baleias em ecoturismo, sequestro de carbono, e estímulo ao crescimento do fitoplâncton, utilizando as ferramentas de Economia Financeira, como a Valoração.

“A principal dificuldade para nós era fazer previsões sobre as populações futuras, no caso de recursos naturais vivos, como as baleias. É especialmente difícil prever com que rapidez uma espécie ou ecossistema ameaçado crescerá. Felizmente, tivemos o apoio de outros cientistas especialistas em biologia das baleias, e uma de nossa equipe é especialista em modelagem matemática”, explica o economista Connel Fullenkamp, professor da Universidade Duke e um dos autores do estudo.

Baleia franca astral. Foto: Wikipédia.

“No momento, estamos escrevendo um documento técnico que detalha os cálculos, e o publicaremos quando estiver pronto. Uma breve visão geral é que projetamos os serviços fornecidos pelas baleias no futuro e, usando estimativas dos preços de mercado desses serviços, localizamos o valor presente (o valor hoje) desses serviços”, disse, em entrevista a ((o))eco, por e-mail.

Capturadoras de carbono 

As baleias acumulam carbono ao longo da vida. Cada grande baleia sequestra, em média, 33 toneladas de CO2, retirando esse carbono da atmosfera por séculos. Para efeito de comparação, uma árvore absorve, em média, apenas 7 kg de CO2 por ano.

Além do sequestro no próprio corpo, as baleias têm o poder de multiplicar a produção de fitoplâncton, criaturas microscópicas responsáveis pela captura de nada mais, nada menos, que 40% do CO2 produzido no mundo. Isso equivale à quantidade de emissões capturada por 1,70 trilhão de árvores – ou quatro florestas amazônicas. Mais fitoplâncton significa mais captura de carbono.

“A diversidade de baleias que ocorre aqui contribui para a fertilização marinha de maneiras diferentes. Por exemplo, os cachalotes, que vivem na borda da plataforma continental, se alimentam a grandes profundidades e depois defecam nas águas superficiais, promovendo aumento do fitoplâncton que está na base da cadeia alimentar. Já espécies grande-migratórias, como as baleias-jubarte, se alimentam nas regiões polares no verão e trazem nutrientes para as regiões tropicais no verão. São literalmente centenas de milhares de toneladas de fertilizante natural que, em última análise, torna a pesca possível em nossa costa em volumes muito maiores do que se não houvesse esse serviço prestado pelas baleias”, explica José Truda Palazzo, Jr, ex-chefe da delegação científica do Brasil à Comissão Internacional da Baleia e atual Coordenador de Desenvolvimento do Instituto Baleia Jubarte.

A ciclagem de carbono e a fertilização dos oceanos são dois serviços ecossistêmicos de maior relevância prestada pelos grandes cetáceos, animais que tiveram redução drástica de população em todo mundo por causa da caça. Apesar da proibição na década de 80, e do anúncio recente do fim da captura “científica” de baleias pelo Japão, que restringirá a caça ao seu próprio território marinho, as grandes populações de cetáceos ainda se recuperam de séculos de caça indiscriminada.

Atividade não extrativa em Abrolhos. Foto: Projeto Baleia Jubarte.

Ainda segundo Truda, que também é colunista de ((o))eco, a fertilização dos oceanos promovida pelas grandes baleias beneficia diretamente a pesca. “Esse fenômeno é ainda mais importante em mares tropicais, relativamente pobres de nutrientes, como no Brasil”.

Outro importante serviço fornecido pelas grandes baleias, principalmente as mais exibidas, como a jubarte (Megaptera novaeangliae) e a franca (Eubalaena australis), é o turismo de observação, um dos maiores aliados da conservação destas espécies.

“[O turismo de observação de baleias] é uma atividade muito próspera, principalmente porque agrega a conservação do animal, gera pesquisa científica e aproximação das pessoas com os animais marinhos”, explica Sergio Cipolotti, coordenador operacional do Instituto Baleia Jubarte.

O turismo de observação de cetáceos movimenta, no mundo, cerca de 2 bilhões de dólares anuais. São mais de 130 países que promovem a atividade.

No Bahia, a visitação embarcada para observação ocorre principalmente no inverno, na época de reprodução das jubartes.

“A baleia fomenta o turismo no momento de baixa temporada e atrai pessoas do mundo inteiro. É uma atividade muito emocionante, todos têm um muito positivo e, principalmente, aproxima as pessoas da questão da conservação dos oceanos. É uma forma única de sensibilização para essas questões, com as pessoas em um ambiente natural observando esses animais majestosos”, diz Cipolotti, que é encarregado da área de turismo do Instituto Baleia Jubarte.

 

 

Leia Também

Ibama publica novo Guia de biota marinha em atividades de pesquisas sísmicas

Brasil perde em casa oportunidade de criar Santuário das Baleias no Atlântico Sul

Computadores e serviços ecossistêmicos

 

  • Daniele Bragança 314r41

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

Leia também 1b437

Colunas
13 de outubro de 2019

Computadores e serviços ecossistêmicos 3x3k54

Humanos são conhecidos pela capacidade de adaptação a diferentes condições. Vejamos como iremos nos adaptar à perda das propriedades emergentes sobre as quais construímos nossos ecossistemas artificiais

Notícias
12 de setembro de 2018

Brasil perde em casa oportunidade de criar Santuário das Baleias no Atlântico Sul 3y3y3d

Apesar da vitória, os votos a favor não foram suficientes para aprovar uma proposta que há 20 anos vem sendo debatida na Comissão Internacional da Baleia

Salada Verde
5 de novembro de 2018

Ibama publica novo Guia de biota marinha em atividades de pesquisas sísmicas g195x

Documento atualizado visa monitorar, controlar e reduzir o impacto desse tipo de trabalho sobre mamíferos e quelônios marinhos. A última versão era de 2005

Mais de ((o))eco 386al

Serviços ecossistêmicos 2w2c5e

Notícias

Mamíferos a serviço do ecossistema – e da sociedade! 6z5s

Análises

Estamos dispostos a pagar a conta de não reação frente aos impactos ambientais? 43b67

Colunas

Como definir o interesse nacional na Amazônia? 5q2h55

Reportagens

Segurança Florestal é tema de artigo da Nature 3c4t60

economia do meio ambiente 2h4n5s

Reportagens

A bioeconomia é POP: documentário apresenta a nova economia da floresta no Brasil e no mundo 1e3b4w

Análises

Quanto vale uma árvore? 1h8h

Notícias

Brasil gasta pouco com prevenção de invasões biológicas e muito com as consequências 725x5i

Reportagens

Isso é só o começo 5x21w

cetáceos 4x2x5l

Notícias

Monitoramento de cetáceos em risco nas áreas afetadas pela catástrofe de Mariana 3l663g

Salada Verde

Por um voto, proposta de criação do Santuário de Baleias no Atlântico Sul é rejeitada 3e1o5q

Reportagens

O que os estudos de cérebros de golfinhos e baleias sinalizam à proteção da biodiversidade? 4x2n73

Reportagens

Para salvar baleias, socorristas de México e EUA arriscam a própria vida 6h3j3k

fauna 4o414o

Notícias

A alta diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 54d1h

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas p4l5i

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 5o2g6f

Salada Verde

Plataforma aborda tráfico de animais em três países 3e5d9

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 3wi3c

  1. RobertoE. diz:

    Excelente! Importante salientar que o projeto Jubarte é patrocinado pelo nossa querida Petrobrás!
    https://www.baleiajubarte.org.br/projetoBaleiaJub