“O tempo bom já foi”, diz o Sr. Arnaldo, um dos últimos representantes dos colonizadores da região metropolitana de Curitiba, quando elogiamos a quantidade de Imbuias e Sassafrás que encontramos em sua propriedade durante a visita do ConBio. E complementou: “As imbuias não valem nada lá no mato e os pinheiros são um problema”.
Argumentamos sobre a importância da conservação da natureza e sobre a prestação de serviços ecossistêmicos, mas o olhar cansado daquele senhor nos deixou embaraçados em continuar nessa linha.
Observamos suas mãos calejadas, as costas curvadas e a pele doente pela exposição de anos e anos lidando na lavoura. Ele continua prestando um serviço essencial, produzindo alimentos mesmo quando todos os outros vizinhos já desistiram pela falta de incentivos. Podemos exigir que ele ainda fosse conservacionista por puro amor à natureza?
No entanto, a urgência de ações de conservação da natureza nos impele a desenvolvermos ações efetivas, pois chegamos naquele ponto que nossas professoras alertavam quando éramos crianças: – “Vai faltar água no futuro” – “Várias espécies desaparecerão e isso afetará a produção de alimentos – “O clima irá enlouquecer”.
Há muitos anos sabemos calcular quanto vale uma floresta deitada, pelo preço da madeira, do terreno livre para construções diversas, para o plantio e para a criação de gado. Mas e a floresta em pé, quanto vale?
Pagamento por serviços ambientais
“o Sr. Arnaldo e os demais proprietários locais são produtores de água, oxigênio, solo fértil e biodiversidade. Não deveriam ser remunerados por prestar serviços tão essenciais à humanidade?”
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Sr. Arnaldo faz parte do grupo de pequenos agricultores que persistem produzindo alimentos em áreas de mananciais de abastecimento, e gostaria de retirar a floresta que sobrou em sua propriedade para vender a madeira e trocá-la por uma plantação de milho.
A floresta de sua propriedade abriga espécies ameaçadas de extinção, polinizadores e nascentes. O solo protegido por essa floresta recebe a água da chuva e a leva para o lençol freático, garantindo a recarga hídrica de parte da bacia. Além de produzir alimentos, o Sr. Arnaldo e os demais proprietários locais são produtores de água, oxigênio, solo fértil e biodiversidade.
Não deveriam ser remunerados por prestar serviços tão essenciais à humanidade?
No entanto, pessoas que moram em áreas de mananciais sentem-se punidos e onerados devido às restrições do uso do solo, e desenvolvem verdadeira aversão à conservação da natureza. Sentem-se penalizados por conservar recursos naturais que são utilizados nos grandes e ricos centros urbanos.
A ferramenta mais consistente à nossa disposição é a educação ambiental, pois ela forma novas consciências. No entanto, existem outros instrumentos que podem e devem acompanhar as ações de educação, como é o caso do Pagamento por Serviços Ambientais.
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Mesmo depois de desmatarmos mais de 90% do estado do Paraná, a floresta ainda é vista como um problema que impede o desenvolvimento local, e não como a solução para o fim das enchentes, da produção de água limpa e da manutenção do equilíbrio climático.
A mudança de consciência através da educação ambiental raramente acontece imediatamente. Ela também não serve de argumento para fazer alguém desistir de desmatar uma área e conseguir dinheiro para sustentar sua família.
O Sr. Arnaldo e todos os demais que possuem áreas naturais em suas propriedades perceberiam o valor da Imbuia em seu terreno se fossem pagos para mantê-la em pé.
Resista à tentação de vender suas imbuias e pinheiros de forma ilegal, Sr. Arnaldo, pois os moradores das cidades e as grandes empresas que consomem a água que o senhor protege deverão bonificá-lo por esse serviço essencial. Logo perceberemos que é muito mais barato pagar pela prestação de serviços ambientais do que por serviços de despoluição. O tempo bom está a caminho, Sr. Arnaldo!
*Solange Latenek dos Santos é bióloga, educadora ambiental e técnica em Conservação da Natureza da SPVS. |
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