Análises

A expansão humana e o encolhimento da biodiversidade 3ij2b

A população do homo sapiens levou 200 mil anos para chegar a 1,5 bilhão de pessoas. Nos duzentos anos seguintes, atingiu 7 bilhões.

Ibsen de Gusmão Câmara ·
2 de julho de 2013 · 12 anos atrás
Órix-cimitarra (Oryx dammah) é um antílope que ocorria no norte da África e hoje se encontra extinto na natureza. Foto: Pawel Ryszawa/Wikimedia Commons.

Um dos maiores problemas ambientais causados pelas ações humanas é a acelerada redução do número de espécies existentes, todas elas resultantes de um antiquíssimo processo evolutivo. Pelo que sabemos, cerca de um e meio bilhões de anos após a formação da Terra, apareceram formas muito primitivas de vida nos oceanos, mas os organismos mais complexos só surgiram há algo como 600 milhões de anos, ando por autêntica explosão de biodiversidade 50 milhões de anos mais tarde e, desde então, a vida tem evoluído e se diversificado através dos tempos, até os dias atuais. Esse quadro, desvendado como resultado de pesquisas geológicas e paleontológicas, evidencia-nos as linhas gerais do extraordinário espetáculo da história da vida, da qual nós, seres humanos, fazemos parte. Sua revelação foi um dos mais espetaculares feitos da mente humana.

Ao longo dos tempos, inúmeras espécies surgiram e desapareceram, as que se extinguiram substituídas por outras delas descendentes, demonstrando uma tendência geral de aumento de biodiversidade. Não obstante, esta tendência não foi constante, exibindo sempre períodos de acréscimos e de diminuição. Épocas houve em que, devido a fenômenos climáticos e geológicos excepcionais, e mesmo a impactos de corpos celestes de avantajadas dimensões, os eventos de extinção se acentuaram brutalmente. Nos últimos 500 milhões de anos são reconhecidos pelo menos cinco desses episódios particularmente devastadores, denominados “extinções em massa” pelos estudiosos da história da vida. Após todos eles, contudo, dentro de alguns milhões de anos, a biodiversidade foi recomposta por novas espécies geradas pela evolução daquelas sobreviventes ao cataclismo biológico. O mais intenso desses episódios, ocorrido há 250 milhões de anos, extinguiu entre 70% a 90% de toda a vida na Terra.

Hoje, vem sendo evidenciado que vivemos uma sexta extinção em massa, desta vez causada por uma só espécie: o homem. A diferença das demais é a sua velocidade, muitíssimas vezes mais acelerada. Enquanto as outras arrastaram-se durante muitos milhares ou milhões de anos – exceto talvez uma delas aparentemente causada por um impacto de um corpo celeste há 65 milhões de anos – a atual vem ocorrendo em apenas poucos séculos, e está em aceleração acentuada.

Humanos causam extinção acelerada

“…estão em processo de extinção 21% dos mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis, 30% dos anfíbios e, surpreendentemente, nada menos do que 71% das plantas…”

As causas dessa hecatombe biológica atual são múltiplas, mas basicamente se resumem à explosão demográfica humana e suas consequências, com a ocupação e destruição dos ecossistemas naturais decorrentes da agropecuária, construção de cidades e estradas, e demais atividades impactantes, além da exploração ambiciosa e descontrolada dos recursos naturais de toda ordem. Basta lembrar que a espécie humana, Homo sapiens, levou cerca de 200.000 anos desde sua origem na África, segundo ensinam os conhecimentos atuais, para alcançar 1,5 bilhões de seres no início do Século XX, e em apenas pouco mais de um século atingiu os sete bilhões de hoje, com a perspectiva de crescer mais três bilhões até o fim deste século. É evidente que estamos ocupando aceleradamente os espaços vitais dos demais seres vivos, destruindo seus ambientes naturais, e explorando-os sem quaisquer considerações com o futuro.

Por tais razões, uma avaliação científica terminada em 2010, estudando a situação dos seres vivos que puderam ser quantificados, levou à conclusão que estão em processo de extinção 21% dos mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis, 30% dos anfíbios e, surpreendentemente, nada menos do que 71% das plantas, com a situação tendendo ainda a agravar-se. Enquanto o tamanho da população humana é medida em bilhões de indivíduos, as de muitos animais, principalmente os de grande porte, o são em poucos milhares e, mesmo, centenas ou apenas dezenas. Claro está que todos esses seres se avizinham rapidamente da extinção. Um colossal número de espécies sofre com seus hábitats repetidamente fragmentados, e estes fragmentos não cessam de reduzir-se. E o mesmo acontece com as populações de plantas e animais neles existentes. Se as tendências atuais forem mantidas, a biodiversidade em futuro não distante tornar-se-á profundamente reduzida.

E como será possível inverter tais tendências ou, pelo menos, atenuá-las? Acima de tudo, propiciando ampla conscientização de todos que nós também fazemos parte da natureza e que dela dependemos pelos seus serviços ambientais; e, ainda, reconhecendo que não é ético eliminarmos a diversidade dos demais seres vivos. Além dessa medida essencial, é indispensável estabelecerem-se áreas naturais, em terra e no mar, nas quais se mantenha o mínimo possível de influência humana direta. Em conferência internacional havida em 2010, foi recomendado que para este fim fossem cuidadosamente reservados 17% de todas as áreas terrestres e 10% das marinhas.

E, além de tudo isso, é fundamental reconhecermos que não somos a última geração e que devemos às futuras a herança de um planeta tão íntegro quanto possível, pelo menos tanto quanto o recebemos de nossos anteados.

 

 

  • Ibsen de Gusmão Câmara 1v6y6v

    Pioneiro do movimento ambiental no Brasil, notabilizou-se na paleontologia e na conservação da natureza.

Leia também 1b437

Notícias
3 de junho de 2025

Iniciativa quer formar 1000 líderes pelo desmatamento zero no Brasil até 2030 4r6h20

Comandada por André Lima, secretário do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, proposta oferece capacitação e troca de experiências com especialistas

Salada Verde
3 de junho de 2025

Coalizão com setores privado e financeiro engrossa coro contra o PL da Devastação 5f2xl

Além de graves danos socioambientais, texto pode trazer mais insegurança jurídica, judicialização e perda de investimentos

English
2 de junho de 2025

Protected areas along an Amazon highway in sight of land grabbing, deforestation and fire 1c4w5j

Finishing the pavement of BR-319 in Brazil could unleash an environmental destruction capable of irreversibly changing the world's climate

Mais de ((o))eco 386al

ibama 306r2w

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 245z1d

Salada Verde

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal 3y332h

Salada Verde

Assassinato de onça-pintada será investigado pela fiscalização federal 6w684m

Salada Verde

Processo contra Salles por contrabando de madeira volta ao STF 4i6z65

Caixa Postal g5y6t

Análises

Os oportunistas da notícia 3m5r59

Análises

O MT Ilegal 4p338

Análises

Cadâ a pressa da licença ambiental? 3u6f47

Análises

Biomas esquecidos 4qt19

conservação 4u55e

Notícias

Iniciativa quer formar 1000 líderes pelo desmatamento zero no Brasil até 2030 4r6h20

Notícias

Zoos e aquários podem investir mais em conservação, aponta ong 1a156w

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 4h4vf

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios p2065

cidades 612752

Notícias

Jardim de Alah, no Rio, terá manifestação neste sábado contra corte de árvores 3g1g1g

Reportagens

Crise global, soluções locais 504a6z

Reportagens

A urgência da adaptação climática 1m2t16

Reportagens

(in)justiça ambiental, para além de um conceito  572n6r

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.