Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 485b4o

Relatório que apontou queda no desmatamento do bioma ite limitação para avaliar campos, mas Governo do Estado vangloria-se de um suposto sucesso da sua política ambiental

Coalizão pelo Pampa ·
6 de junho de 2025

O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2024, coordenado pelo Projeto MapBiomas e divulgado em maio desse ano, aponta que, em 2024, o desmatamento no Brasil diminuiu em mais de 30% em comparação com 2023 e que, pela primeira vez, todos os biomas apresentaram redução na área desmatada, com exceção da Mata Atlântica.

O relatório chama a atenção, já nas suas primeiras páginas, que “As reduções observadas em biomas com ecossistemas campestres, principalmente o Pampa (redução de 42%), são atribuídas às áreas de florestas, pois sistemas de detecção de supressão de campos nativos ainda precisam ser aprimorados e integrados ao MapBiomas Alerta”. Tal advertência tem uma razão muito simples: o Bioma Pampa, a uma área que corresponde a 69% do território do Rio Grande do Sul, possui vegetação predominantemente de campo, atualmente com 32% de cobertura campestre e apenas 12% de cobertura florestal. 

Portanto, o que o MapBiomas nos avisa, em última análise, é que os dados precisam ser interpretados com a devida cautela e que a queda nos alertas de desmatamento que seu sistema consegue detectar no Pampa não pode ser confundida com evidência de diminuição nas taxas de perda da vegetação campestre que compõe a maior parte do Bioma.

Outro conjunto de dados fornecido pelo próprio MapBiomas, os mapas anuais de uso e cobertura do solo, mostram que, no RS, cerca de 140 mil hectares de vegetação nativa campestre foram perdidos a cada ano, entre 2012 e 2023, em grande parte pela conversão em monoculturas agrícolas, sobretudo da soja, e não há nenhuma evidência de que isso tenha sido alterado significativamente em 2024. Muito pelo contrário: a negligência na aplicação da Lei da Vegetação Nativa às formações campestres e as recorrentes investidas de setores econômicos visando fragilizar as normas e o licenciamento ambientais, bem como a fragilidade dos instrumentos de fiscalização e controle, têm aumentado a vulnerabilidade do campo nativo no estado. A descaracterização do Código Estadual de Meio Ambiente do RS, promovida pelo atual Governador de forma açodada e sem debate com a sociedade, é um exemplo claro disso.

Tal situação tem levado a uma rápida e notória degradação das paisagens naturais do Pampa, com perda da biodiversidade e do potencial de desenvolvimento sustentável da região, comprometendo os serviços ambientais proporcionados pela vegetação campestre, inclusive na sua função de atenuar as mudanças climáticas e os desastres meteorológicos.

Portanto, devagar com o andor: ao contrário do que foi alardeado na imprensa e demais mídias, os números divulgados pelo MapBiomas estão longe de atestar o sucesso das políticas públicas do Governo gaúcho, ou de demonstrar valorização de boas práticas ou de diálogo democrático e relação transparente com diferentes setores da sociedade.

Organizações não governamentais, redes de pesquisadores, povos e comunidades tradicionais, servidores públicos de órgãos ambientais, entre outros setores da sociedade preocupados com a conservação do Pampa, seguem reivindicando participação efetiva na construção de políticas públicas e projetos governamentais estratégicos e seguem cobrando o cumprimento e regulamentação da legislação ambiental vigente para a proteção do bioma, a valorização das cadeias produtivas sustentáveis, o planejamento da ocupação e uso do solo, a promoção do turismo sustentável como ferramenta de valorização dos territórios tradicionais, a efetivação dos processos de regularização e proteção dos territórios tradicionais, o desenvolvimento de ações de fortalecimento da autonomia das comunidades em relação à sustentabilidade de seus territórios, a implementação de políticas públicas de comunicação sobre os campos nativos e a adoção de ações de fiscalização da supressão ilegal de campos nativos pelos órgãos competentes

  • Coalizão pelo Pampa 2s5k5e

    Coalizão pelo Pampa é um coletivo formado por mais de 20 entidades entre associações de servidores da área ambiental, universidades, grupos de pesquisa e ONGs

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Comentários 1 3wi3c

  1. Rafael Valerio Martins diz:

    Uma ação muito importante e urgente seria a implantação de uma rede de unidades de conservação (UCs) do Bioma Pampa, abrangendo unidades federais, estaduais e principalmente incentivos para a criação de UCs municipais. Assim como, projetar um sistema de UCs do Pampa que envolva as diversas fisionomias dos campos pampeanos, protegidos pelas diversas categorias de UCs, tanto de proteção integral, quanto de uso sustentável, com destaque para o potencial das Áreas de Proteção Ambientais (APAs) na conservação de grandes áreas do bioma.