Colunas

Onde estão as embalagens longa vida? 5w2c32

Lembram-se que, na última coluna, fizemos uma campanha para arrecadar caixinhas que iriam para o lixo? Pois é. Confira agora onde esses materiais foram parar.

27 de fevereiro de 2009 · 16 anos atrás
  • Ana Claudia Nioac de Salles 1o6c6l

    Economista, montanhista e aluna de doutorado no Programa de Planejamento Energético da COPPE/ UFRJ.

Carlos Henrique Gorges Vici, professor de Física, idealizou as mantas com caixas longa vida. Foto: Ana Claudia Nioac de Salles
Carlos Henrique Gorges Vici, professor de Física, idealizou as mantas com caixas longa vida. Foto: Ana Claudia Nioac de Salles

Em meados de 2007, andando com seu professor pelas ruas de Londrina, um aluno deixou cair uma caixa de Tetra Pak com água de coco. Ao pegar a caixinha para jogá-la no lixo, o professor repara que dentro dela tem alumínio e se pergunta como essa material poderia ser reaproveitado.  Ao invés da lixeira, portanto, a caixinha foi parar na casa do professor, e deu origem à idéia de fazer mantas térmicas para serem instaladas nos telhados das casas para manter amena a temperatura interna de casas populares. Vendo o potencial da idéia, o professor levou-a para a sala de aula e começou a aprimorá-la com seus alunos.

O mentor da idéia, Carlos Henrique Gorges Vici, é professor de física do ensino médio e superior do Colégio Serviço Social da Indústria (Sesi) de Londrina, da Escola Berlaar Santa Maria, do Colégio Platão de Apucarana e da Universidade Norte do Paraná (Unopar).   

Como membro do Rotary Clube de Londrina, Carlos Henrique divulgou a idéia num encontro que deu início ao primeiro projeto comunitário a nível nacional. Associando-se ao diretor de uma penitenciária, o professor conseguiu uma autorização especial para que seus alunos, atuando como multiplicadores da idéia ensinassem aos detentos como elaborar essas mantas térmicas.

As mantas surgidas dessa união foram instaladas em casas do Projeto “Onde Moras” do Governo Federal, que reaproveita material de construção para levantar casas em comunidades carentes, como as do Bairro Nossa Senhora da Paz, um dos mais violentos da cidade de Londrina.

Forro recebendo a manta feita de material reciclado. Foto: Carlos Henrique Gorges Vici
Forro recebendo a manta feita de material reciclado. Foto: Carlos Henrique Gorges Vici

Cada manta mede 1,02m2 e são necessárias 20 caixas Tetra Pak (de preferência do mesmo tamanho para manter um padrão de instalação). As caixas são lavadas com detergente em pó (para lavar roupas) e com um desinfetante perfumado (para retirar o odor do leite). Depois de secas são coladas umas nas outras (com cola de silicone acético) e os remendos são fixados com fita tipo silver tape. O custo de confecção de cada manta térmica é de R$ 1,50, enquanto que a manta de alumínio convencional custa entre R$ 7,00 e R$ 8,00. As mantas devem ser instaladas entre a telha e a madeira num espaço de no mínimo 2,0 cm, com a parte de alumínio virada para dentro, como nas embalagens feitas de Tetra Pak, podendo ser instaladas em telhados horizontais ou inclinados. Se não tiver forro, elas podem fazer esse papel e ainda proteger contra goteiras. 
     
Em 2007, as mantas térmicas de Tetra Pak foram instaladas em 3 casas e em 2008 em mais uma casa. Cada casa popular precisa em média de 50 mantas ou de 1.000 caixinhas. Os responsáveis pelo projeto constataram que no verão a temperatura no telhado de amianto varia entre 70 e 75oC e que na manta cai drasticamente para 28-29oC. No interior da casa a temperatura que antes era de 38oC a 40oC é reduzida em 15oC, ficando entre 25-26oC.   

Carlos Vici e turma da oficina Festival de Águas de Santo Antônio. Foto: Ana Claudia Nioac de Salles
Carlos Vici e turma da oficina Festival de Águas de Santo Antônio. Foto: Ana Claudia Nioac de Salles

O projeto já ganhou dois prêmios: o Prêmio “Construindo a Nação” do Instituto Cidadania em 2007 e o Prêmio “Escola Voluntária” do Banco Itaú em 2008. Desde então teve uma grande repercussão e mais de 20 oficinas já foram realizadas no Paraná e em outros estados. Algumas empresas e outras comunidades de baixa renda também se mostraram interessadas em aprender essa técnica.

O SESI de Londrina quer disseminar o projeto montando uma rede social de produção em larga escala. Estuda uma parceria com o Governo Estadual – que ficaria responsável pela disponibilização do detergente, da cola e fita do tipo silver tape e pela liberação dos detentos para essa função – e com o Governo Municipal – que se responsabilizaria pela colocação das mantas. A própria comunidade ficaria encarregada de coletar a matéria-prima e produzir as mantas térmicas nas suas casas.

Tomara que essa iniciativa, que reúne ação social e reutilização de materiais descartáveis, tenha de fato uma “longa vida”.   

Leia também 1b437

Notícias
23 de maio de 2025

Transição energética entra de forma discreta na terceira carta da Presidência da COP30 161u3k

À comunidade internacional, André Corrêa do Lago delineia o que ele espera que seja alcançado nas negociações preparatórias de Bonn

Análises
23 de maio de 2025

Que semana, hein? 6s4y4a

Apesar das batalhas perdidas e dos ciclos que se fecham, a luta ambiental tem que seguir

Notícias
23 de maio de 2025

O Brasil e o mundo dão adeus a Sebastião Salgado, que viveu 81 anos de histórias e imagens 384169

O fotógrafo dedicou grande parte da vida aos temas humanistas e ecológicos, incluindo a restauração de ambientes naturais

Mais de ((o))eco 386al

reciclagem 5b3sn

Análises

O carnaval não pode continuar a ser a festa do lixo 5v5cd

Colunas

Adiar não tornará mais simples a gestão de resíduos sólidos e3612

Reportagens

“Ou se juntam a nós ou, por favor, saiam da frente”, declara Panamá diante de esboço decepcionante do Tratado de Plásticos o3n1

Reportagens

Compostagem no Brasil: com quantos baldinhos se faz uma revolução? 6k6j5b

soluções ecológicas h2v4b

Análises

Cidades sustentáveis exigem prefeitos sustentáveis 1j1121

Notícias

Kit geladeira reduz o consumo em 15% 5z26x

Colunas

Bucha vegetal para limpeza em geral 52283m

Colunas

Lixo plástico no lugar da madeira 1k71z

sustentabilidade 4ic2i

Colunas

O trabalho infantil e a responsabilização do futuro do planeta às crianças 2q6j38

Análises

Quanto de sapiens e quanto de grilo? 4a3o62

Salada Verde

Os caminhos para integrar a natureza brasileira aos espaços urbanos s6k2e

Reportagens

Pecuária sustentável traz esperança para a conservação do Pantanal 6g27j

lixo j1f6o

Análises

O carnaval não pode continuar a ser a festa do lixo 5v5cd

Salada Verde

Mutirão para retomada de unidades geridas por cooperativas de reciclagem em Porto Alegre 5k1y1g

Salada Verde

Lei nacional de economia circular aguarda aprovação da Câmara 241y6b

Reportagens

Após quase 10 anos, Tribunal de Contas de Pernambuco anuncia fim dos lixões no estado 22f3e

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 3wi3c

  1. Esmeralda diz:

    Parabéns pelo artigo!Muito bom,