Colunas

Safra 2010 de onças promete 53416b

Oficialmente, o parque nacional do Iguaçu nunca teve tão pouca onça. Mas cresce o número de pessoas que encontra pintadas em sua rotina na unidade de conservação.

26 de fevereiro de 2010 · 15 anos atrás
  • Marcos Sá Corrêa 1z28g

    Jornalista e fotógrafo. Formou-se em História e escreve na revista Piauí e no jornal O Estado de S. Paulo. Foi editor de Veja...

 

Na manhã dessa terça-feira, dia 23, Clodoaldo da Silva viu uma onça com dois filhotes pequenos na beira da BR-469. É um caminho que ele faz regularmente, como funcionário da área de manutenção do parque nacional e, sobretudo, como encarregado de recolher para a Itaipu Binacional, três vezes por dia, os dados da estação pluviométrica e dos marcos de altura do rio na beira do Iguaçu.

Mas um encontro como aquele era a primeira vez que acontecia. Os bichos estavam a cerca de três metros de seu carro. Aparentemente, ignorando sua presença. A calma dos filhotes o impressionou. Ele, ao contrário, ficou “tão perturbado” que nem se lembrou de gravar a cena com o telefone celular. “Numa hora dessas, nada funciona”, explicou.

Nesse ponto, podia se considerar na mais fina companhia. Quatro dias antes, mais ou menos na mesma hora, o jornalista Adílson Borges cruzou com uma onça no quilômetro 7,2 da estrada federal, a das cataratas. Ele trabalha na Assessoria de Comunicação do parque há seis anos. Mas aquela foi também a primeira onça de seu currículo.

“Já topei com muito caititu, veado, jacaré. Mas com pintada, nunca, Aliás, nem sussuarana”, ele conta. Borges ia na ocasião fotografar uma solenidade na borda das cataratas. A bolsa com o equipamento fotográfico estava no banco de trás. E lá ficou. “Acho que era um filhote quase adulto. Estava sozinho. Quando saltou do barranco, do outro lado da pista, pensei que fosse um puma. Mas ele ou bem na minha frente, e aí vi as manchas. Ele vinha correndo, mas sem dar a impressão de que estava fugindo ou perseguindo uma presa. Simplesmente atravessou a estrada depressa e entrou no mato à direita, como se meu carro não existisse”.

Era uma grande história para contar, na segunda-feira de manhã, a seu chefe, o diretor do parque Jorge Pegoraro. A primeira onça, depois de seis anos… Mas seu relato não foi longe, porque Pegoraro também tinha muito o que dizer a esse respeito. No cargo desde 2003, ele acabava de ver, na madrugada de sábado, a 200 metros de sua casa, um par de pintadas.

Voltava, na ocasião, de um jantar na Argentina. Sua mulher, Iáscara, assumira o volante. Ele cabeceava no banco do carona. Os dois filhos dormiam a sono solto atrás. De repente, Iáscara exclamou: “Pegoraro, olha lá dois bichos grandes no acostamento”. Veados certamente não eram. O casal está habituado a flagrá-los com os faróis do carro, quando chega em casa em horas mortas. Antes mesmo que os fachos iluminassem os dois animais em cheio, eles sabiam que estavam diante de alguma coisa nova, maior, diferente.

“Pensei que fossem pumas”, lembra Pegoraro. Mas seu batismo de onça dispensaria qualquer abatimento. Eram pintadas legítimas. Aparentemente, uma fêmea com um filhote quase de seu tamanho, mas ainda no pé, costeando o mato que, logo adiante, desemboca em seu jardim. Portanto, duas onças entregues quase a domicílio.

E não se fala mais de outro assunto esta semana. Há uma safra de onça nesta temporada que Iguaçu há muito tempo não colhia. Há duas semanas, uma pintada pesseava pela trilha das Bananeiras, roteiro que em geral oferece aos turísticas um cardápio rico, mas com baseado em pássaros e borboletas. Caminhava pela estrada de terra, como se fizesse parte do programa. Depois, no carnaval, uma guia viu duas onças que pareciam se distrair uma com a outra, como se estivessem brincando.

Seja lá qual for o motivo para tamanha visibilidade, elas vêm em boa hora. Quanto mais aparecerem, menos se pode adiar as medidas de controle da velocidade e do excesso de trânsito na BR-469, onde carros, ônibus e caminhões trafegam no ritmo decrescentes de uma arrancada turística que este ano levou 10.400 pessoas ao parque só no domingo de carnaval. É um assunto que a istração começou a discutir há um ano, quando uma pintada foi atropelada em plena juventude mais ou menos no mesmo ponto da estrada onde as sobreviventes agora estão circulando. Ou melhor, dando o ar de sua imensa graça.

E quantas onças sobrevivem no Iguaçu? Esse é outro mistério. Oficialmente, contadas pelas armadilhas fotográficas da ONG Pró-Carnínovoros, elas não am neste momento de seis exemplares. Apesar de raras, tornaram-se mais visíveis do que nunca – seja para corroborar ou para desmentir o prognóstico sombrio de que, reduzidas a essa população, elas estão a caminho do sumiço definitivo no Iguaçu.

“Uma coisa é certa”, diz Pegoraro. “Foi só retomarmos o estudo das onças para elas aparecerem”. O que elas querem dizer com isso os especialistas ainda não foram capazes de traduzir para os programas de manejo do parque nacional. Mas ninguém pode dividar de que elas andam fazendo o possível para receber mais atenção.

Leia também 1b437

Salada Verde
3 de junho de 2025

Decreto acrescenta 400 hectares ao Parque Estadual Restinga de Bertioga 194n1e

Ampliação visa compensar remoção de áreas habitadas de dentro do parque estadual paulista e ajuda a consolidar corredor ecológico da Mata Atlântica costeira

Salada Verde
3 de junho de 2025

((o))eco é um dos finalistas do Prêmio de Jornalismo Digital Socioambiental 672z4v

Investigação da repórter Alice Martins sobre o futuro de Marajó, no Pará, concorre na categoria “Melhor Reportagem Socioambiental” do prêmio dado pela Ajor

Notícias
3 de junho de 2025

Iniciativa quer formar 1000 líderes pelo desmatamento zero no Brasil até 2030 4r6h20

Comandada por André Lima, secretário do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, proposta oferece capacitação e troca de experiências com especialistas

Mais de ((o))eco 386al

unidades de conservação 4x4ed

Salada Verde

Decreto acrescenta 400 hectares ao Parque Estadual Restinga de Bertioga 194n1e

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI 3l3w55

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 3k1x1u

Colunas

Mercantilização e caos no licenciamento ambiental brasileiro 6y4jn

ibama 306r2w

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 245z1d

Salada Verde

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal 3y332h

Salada Verde

Assassinato de onça-pintada será investigado pela fiscalização federal 6w684m

Salada Verde

Processo contra Salles por contrabando de madeira volta ao STF 4i6z65

clima e energia 3a4t2x

Notícias

Não cabe ao MMA definir o caminho da política energética brasileira, diz Marina Silva hu4u

Colunas

Nordeste Brasileiro: A Região esquecida no centro do debate climático 3c5m2b

Colunas

Os desafios da diplomacia climática em 2025 2v221n

Reportagens

Congresso aprova marco da eólica offshore com incentivo ao carvão   6240u

aves 422y45

Notícias

A alta diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 54d1h

Salada Verde

Plataforma aborda tráfico de animais em três países 3e5d9

Reportagens

O atobá quarentão que uniu gerações de pesquisadores 133o15

Salada Verde

As incríveis revoadas de guarás no litoral paranaense 5s6h6k

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.