Colunas

Porta dos fundos de Petra n74c

Cenário da última novela da Globo, a cidade jordaniana tem turismo de massa. Mas há espaço para quem gosta de tranquilidade. 

6 de maio de 2010 · 15 anos atrás
  • Pedro da Cunha e Menezes 1f5i6k

    Fundador da Trilha Transcarioca e Diretor da Rede Brasileira de Trilhas.

A recente novela da TV Globo, Viver a Vida, escrita por Manoel Carlos, popularizou a cidade jordaniana de Petra entre os telespectadores brasileiros. Não é para menos. Trata-se de uma povoação milenar. Antiga capital dos nabateus, Petra localizava-se a meio caminho entre as regiões do Oriente produtoras de incenso, sedas e especiarias e os mercados consumidores na Europa e na Arábia. Na região da Palestina a travessia das caravanas só era possível graças à infraestrutura de estradas, pontos d’água e vilas fortificadas mantidas pelos nabateus entre o Golfo Pérsico e os portos de Gaza.

 

O comércio enriqueceu o reino nabateu que, com os cobres que amealhou nos anos de vacas gordas, soube edificar grandes monumentos cujas ruínas até hoje impressionam pela beleza e magnificência. Tanto sua capital, como as cidades menores ao longo da estrada do incenso no deserto do Negev (como Avdat no atual estado de Israel) estão hoje classificadas como Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO.

O império de Petra durou do século II A.C. até o século VI D.C. quando um grande terremoto forçou seus habitantes a abandonarem a região. Quinze séculos depois a cidade continua monumental. Possui centenas de prédios escavados na rocha de arenito, com uma arquitetura ao mesmo tempo fascinante e improvável. A capital dos nabateus está localizada em um grande anfiteatro natural, cuja geografia lhe confere proteção. A entrada principal se dá por um canion profundo e estreito, de fácil defesa mas também de beleza magnífica. Na antiga metrópole tudo impressiona: não somente os templos e edifícios habitacionais, mas também as cisternas, os estábulos, o complexo sistema de irrigação, coleta e abastecimento de água, as escadas escavadas na rocha e as vistas deslumbrantes que descortinam o deserto sem fim.

Só há um problema. A indústria do turismo já descobriu essa jóia: uma visita a Petra quase sempre é feita com a companhia de multidões. Logo na entrada do canion há um estacionamento atulhado de ônibus que despejam aos borbotões argentinos cabeludos, americanos barulhentos, japoneses e suas máquinas filmadoras, sas e suas sombrinhas, além de quase todas as outras nacionalidades do planeta, incluindo brasileiros.

Para os montanhistas, contudo, há uma alternativa mais em comunhão com a natureza. Existe uma trilha que leva a Petra ando por cima dos morros que conformam o anfiteatro em que a cidade está inserida. É uma caminhada belíssima por trilhas estreitas, mas bem definidas em meio a uma paisagem desértica e, aparentemente, desolada. Sobe, desce, sobe, sobe, sobe, desce, sobe de novo e, de repente, começam a aparecer as fachadas dos prédios e templos encravados na rocha. São os subúrbios de Petra, quase tão bonitos quanto o centro, mas completamente vazios, e à disposição exclusiva do trilheiro.

O tamanho da caminhada depende apenas do preparo físico do visitante. A malha de trilhas é interminável, além de variada. Conduz a mirantes, aquedutos, monumentos e a um teatro romano com capacidade para sete mil pessoas sentadas, além de vales e planícies onde os nabateus plantavam, em terras irrigadas. Há quem fique dois dias inteiros perambulando por aquelas paisagens de beleza incomparável, irando suas intermináveis tonalidades que vão do branco ao lilás, ando por amarelo, ocre, cinza e vermelho: Petra floresceu durante oito séculos, mas não expulsou a natureza.

Por essa via, depois de algumas horas de cabritada, acaba-se por também chegar ao centro de Petra após uma visita ao Supremo Templo do Sacrifício, cerca de 200 metros acima da antiga área urbana da capital dos nabateus. Se a caminhada foi bem planejada, o objetivo será alcançado no fim da tarde e as hordas de turistas já terão se dissipado: ver Petra ao por-do-sol é um prêmio merecido para quem não economizou pernas ao longo do dia. Além disso há ainda um derradeiro prêmio, deixar a cidade através do magnífico canion de 1,2 km de comprimento que serve de entrada para o resto dos visitantes. Nada mais justo para quem teve a pachorra de percorrer Petra por suas mais recônditas trilhas: ir embora pela porta da frente.

Leia também 1b437

Reportagens
28 de maio de 2025

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 6f1l7

Em meio às discussões da COP 30, ex-presidente do Ibama critica a expansão petrolífera e aponta riscos da exploração na Foz do Amazonas

Notícias
28 de maio de 2025

“O poder da juventude está em aproximar realidades cotidianas dos espaços de decisão” 5i55

Cientista ambiental da Rede Favela Sustentável avalia papel do jovem no enfrentamento da crise climática, tema-foco do IV Fórum Terra 2030

Notícias
28 de maio de 2025

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 9106o

Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi alvo de violência política e de gênero durante audiência de comissão

Mais de ((o))eco 386al

trilhas 3v105b

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras 2k566y

Salada Verde

São Paulo inaugura trilha que cruza áreas protegidas da cidade 292y2p

Salada Verde

Associação Rede Brasileira de Trilhas elege nova presidência i1219

Salada Verde

Em resposta a Trump, Canadá barra entrada de trilheiros na Pacific Crest Trail 3q2s3s

ecoturismo 434b2d

Análises

A falácia das instituições no ecoturismo: lições não aprendidas 6d6b70

Reportagens

A Floresta vista da favela 5a183w

Reportagens

Alvo da crise do clima, turismo quer regenerar ambientes e cortar emissões 1e591b

Análises

Turismo de natureza no Cerrado: uma oportunidade 46412x

aventura 5h4s4n

Notícias

As montanhas mais altas vistas do espaço 57726o

Reportagens

Na pegada esquecida dos Ciganos 2272v

Colunas

No Laos, sob chuva, uma visita ao parque dos elefantes 1g3n5t

Análises

Navegar é preciso, caminhar não é preciso 4u4rz

Ar Livre 503524

Notícias

O feitiço de Marrocos 6b6qw

Notícias

Morte em Yosemite 255f6x

Notícias

Calçado ideal q325u

Notícias

Cicloturismo 2u6z3

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.