Colunas

Ciência cidadã para democratizar informação ambiental 1z161s

O Eco chega à final do Desafio de Impacto Social Google Brasil inspirado por pessoas comuns que decidiram criar sensores para investigar a saúde do meio ambiente.

5 de maio de 2014 · 11 anos atrás
  • Gustavo Faleiros 6vd2i

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

Sensor Riffle que inspira o trabalho de O Eco em monitorar qualidade de água em cidades na Amazônia (foto PublicLab.org)
Sensor Riffle que inspira o trabalho de O Eco em monitorar qualidade de água em cidades na Amazônia (foto PublicLab.org)

O fascínio das pessoas em registrar alterações no meio ambiente nem sempre foi ou será um privilégio de cientistas com dedicação integral à academia. As comparações históricas sobre as mudanças do clima no Reino Unido, por exemplo, feitas pelo conceituado MetOffice, utilizam registros que começam em 1659, colhidos por cidadãos diletantes. Nem todos faziam parte de uma instituição, mas ainda assim registravam com rigor científico alterações na temperatura e precipitação.   

Acabo de voltar de uma viagem à Universidade de Berkeley, na California, onde tive a oportunidade de participar de um encontro que discutiu a popularização de sensores de baixo custo para medir qualidade ambiental. Realizado pelo Centro de Pesquisa em Tecnologia da Informação para o Interesse Público (CITRIS, na sigla em inglês) em parceria com a rede Earth Journalism Network, o seminário promoveu a troca de ideias de comunidades aparentemente desconectadas: cientistas, cidadãos e jornalistas ambientais. 

O movimento já ganha nomes como Ciência Cidadã, Jornalismo de Sensores e outros devem surgir. Mas o importante mesmo é que a oportunidade de democratizar o o e a abrangência de informações ambientais é extremamente poderosa.

Leia também: O Eco é finalista de desafio promovido pela Google

Para além da turma saudosa dos tempos do brinquedo Pequeno Cientista (que tudo indica parou de ser fabricado no Brasil), a rede que está se criando pode mudar a forma como a sociedade monitora o meio ambiente. Antes somente providos pelos canais oficiais, os dados podem suscitar perguntas incômodas para os governantes de plantão sobre a qualidade do ar e da água.

Um grupo de hackers de Barcelona, Espanha, por exemplo, criou o SmartCitizen.me, um kit que pode ser colocado em varandas, terraços e janelas para captar dados sobre concentrações de monóxido de carbono e outros poluentes em uma escala menor do que fazem as estações oficiais de qualidade do ar. O sensor foi totalmente financiado por doações na internet e quem doou recebeu um kit para começar a fazer suas próprias medições.

Outra comunidade fantástica e que não para de crescer é a do Public Lab. Como o próprio nome diz, é um laboratório de cidadãos interessados em trocar figurinhas sobre como fazer protótipos de sensores que podem ser replicados por outras pessoas comuns e com custo geralmente inferior a 100 dólares. Tudo é feito num formato de wiki, onde os colaboradores incluem resultados de seus experimentos e materiais utilizados.

Vamos medir a qualidade da água na Amazônia

Foi exatamente um dos projetos do Public Lab, chamado Open Water, que começou a inspirar o pessoal de O Eco sobre a possibilidade de se investigar o que está ocorrendo com a qualidade da água nas cidades da Amazônia. Estudando projetos como o do sensor Riffle percebemos que seria possível criar uma rede de sensores de baixo custo em Manaus, Belém, Porto Velho e Rio Branco e captar informações localizadas sobre a possível presença de poluentes na água.

Mais do que isso, com a atual tecnologia é possível não apenas captar esta informação como compartilhá-la através das redes de telefone celular e pela Internet. Enviamos portanto o projeto Rede InfoAmazônia ao Desafio de Impacto Social Google Brasil e fomos escolhidos como uma das dez ONGs finalistas. Fica aqui o convite para que vejam o vídeo sobre a proposta. Você pode ajudar com o seu voto 

A escolha destas cidades se deve à constatação de elas lideram as capitais com maior número de domicílios sem água encanada (veja gráfico abaixo). A rápida urbanização da Amazônia é um fenômeno com consequência pouco estudadas e também pouco faladas pela mídia. Em 30 anos, segundo relatório do INPE, a região ou de 35% de habitantes nas cidades a 70%. A escassez de água tratada é um dos efeitos já conhecidos. Apenas em Manaus estima-se que existam 15 mil poços artesianos. Em Belém, uma estimativa do geólogo Francisco de Matos Abreu indicou que até 900 mil pessoas poderiam estar consumindo água contaminada também pela falta de controle das fontes de captação.

Esperamos gerar dados a partir de uma rede de 80 sensores que serão instalados em parceria com ONGs e comunidades locais. As pessoas poderão cadastrar telefones celulares para receberem mensagens com as informações coletadas. Mas pretendemos também agregar os dados consolidados em nossa plataforma de mapas interativos oeco-br.noticiascatarinenses.com. Desde que foi criado por Marcos Sá Corrêa, Kiko Brito e Sérgio Abranches em 2004, O Eco tem como uma de suas marcas a inovação e o compromisso em falar sobre o meio ambiente. Agora, quando estamos completando 10 anos de vida, o caminho não parece diferente. 

 

 

 

Leia também 1b437

Notícias
22 de maio de 2025

Governo, ongs e sociedade civil se manifestam contra aprovação do PL do Licenciamento 51131e

"Retrocesso sem precedentes" é a definição que autoridades e especialistas em meio ambiente e clima usaram em relação ao projeto votado pelos senadores

Salada Verde
22 de maio de 2025

Mostra de cinema temático levanta questões sobre o meio ambiente nas telas 4jh

Festival vai até 11 de junho e ocupa 49 espaços em São Paulo com produções envolvendo emergência climática, migração, povos originários e outros enredos atuais

Colunas
22 de maio de 2025

Mercantilização e caos no licenciamento ambiental brasileiro 6y4jn

Para um país com enorme dificuldade de implementar leis de proteção ambiental (enforcement), o PL abre definitivamente a porteira da insustentabilidade

Mais de ((o))eco 386al

geojornalismo 4k3te

Notícias

Google apoiará projeto de ((o))eco com R$ 500 mil u1e70

Notícias

O Eco é finalista de desafio promovido pela Google 5e5gg

Notícias

Mapeando os parques do WikiParques 6h5d4i

Notícias

InfoAmazonia: Devastações da mineração ilegal podem ser vistas do espaço 694f24

amazônia 245k3y

Notícias

Degradação da Amazônia cresce 163% em dois anos, enquanto desmatamento cai 54% no mesmo período 102q1e

Reportagens

Petroleiras aproveitam disputas entre indígenas e ocupam papel de Estado enquanto exploram territórios no Equador 182e18

Reportagens

Ao menos 6 milhões de cabeças de gado no Pará estão irregulares entre indiretos 301b22

Notícias

Cientistas descobrem espécie de peixe que vive solitária na Amazônia 63v30

poluição 1b1g5c

Reportagens

A história de um besouro praiano e o que ela nos conta sobre a poluição costeira 432iz

Reportagens

Brasil quer colocar Oceano em destaque no Tratado de Plásticos 703xe

Notícias

Rios amazônicos recebem 182 mil toneladas de plástico por ano 3u5h39

Salada Verde

Nova plataforma digital monitora poluição atmosférica e impactos na saúde humana 4g6a1

jornalismo de dados 6n431k

Reportagens

Uma oportunidade de recomeço para a Mata Atlântica 562p4a

Notícias

Conheça a nova versão do mapasColetivos 2s5y4c

Notícias

As mudanças das estações vistas do espaço 53o6k

Reportagens

Em vinte anos, ataques de tubarões em Pernambuco somam 59 4j39e

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.