Notícias

Cientistas descobrem espécie de peixe que vive solitária na Amazônia 63v30

População de peixe-anual foi encontrada numa única poça temporária próxima do Rio Madeira, no estado do Amazonas e pode estar sob grave risco de extinção

Duda Menegassi ·
14 de maio de 2025

Numa poça temporária próxima do rio Madeira, no Amazonas, vive solitária a população de um pequeno peixe, que eclode apenas quando as chuvas permitem. Este morador sazonal possui um corpo bege colorido por bolinhas em tom marrom avermelhado nas nadadeiras. De tamanho diminuto, as fêmeas mal ultraam os quatro centímetros. Os machos, um pouco maiores, medem até sete. Ambos menores que uma palma humana. Estes pequenos peixes amazônicos aram despercebidos e só recentemente ganharam um nome e uma apresentação formal à ciência.

Ironicamente, a espécie estava armazenada desde 1991 – ainda sob o anonimato do desconhecimento – na coleção do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). E durante uma pesquisa online, chamou atenção do especialista Fábio Origuela. A partir das informações sobre essa coleta, feita nas proximidades do município amazonense de Humaitá, foi organizada uma expedição. 

Em janeiro de 2018, os pesquisadores finalmente encontraram os peixes, moradores solitários de uma única poça com apenas 20 centímetros de profundidade e sem nenhuma outra espécie de peixe. O achado permitiu a análise e descrição formal da espécie, batizada de Moema humaita, em referência ao município em que vive. A descoberta foi publicada no periódico científico Zootaxa no início de maio. 

“A espécie foi encontrada em uma única localidade, em uma área alagada perto do Rio Madeira, próximo à rodovia BR-319”, explica um dos autores do artigo, Dalton Nielsen, pesquisador do Peixes da Caatinga.

A espécie é um peixe-anual – mais poeticamente conhecidos como “peixe das nuvens” – que têm um ciclo de vida peculiar. Resiliente e, ainda assim, extremamente frágil, eles são habitantes de poças temporárias, que se formam durante os períodos chuvosos. Os peixes anuais am parte da vida enterrados na lama à espera das chuvas, que transformam o barro em água, para eclodirem de seus ovos no recém-formado lar.

Essa característica faz desta família de peixes – os rivulídeos – extremamente vulnerável. Entre as ameaças principais estão o aterramento pela construção civil, secas severas e, claro, as mudanças climáticas que comprometem o regime de chuvas. Não à toa, os rivulídeos sozinhos representam um terço de todas as espécies ameaçadas de peixes no Brasil.

O pesquisador ite que ainda é cedo para fazer uma avaliação sobre o estado de conservação do Moema humaita, mas baseado no pouco que se sabe sobre a espécie até o momento, ela poderia ser classificada como Criticamente Em Perigo, o mais alto grau de ameaça. Justamente por só existir numa localidade e estar próxima de áreas impactadas, como a rodovia e pastos.

Dalton ressalta, entretanto, que são necessários mais trabalhos de campo na região com o objetivo de procurar ambientes aquáticos anuais. “Isso é muito pouco realizado, pois estes ambientes e os peixes anuais existem apenas na estação das cheias, épocas a qual os ictiólogos [especialistas em peixes] geralmente não fazem trabalho de coleta, pois eles preferem as estações secas, onde o volume de água é menor e a captura dos peixes é mais fácil”, explica. 

  • Duda Menegassi 3d542y

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também 1b437

Colunas
5 de fevereiro de 2025

Uma arca ou uma Ubá? r4v65

Talvez a nossa única chance contra o Corredor da Morte da Biodiversidade Brasileira seja investir em reprodução de ambientes e espécies ex-situ

Notícias
5 de janeiro de 2021

Peixe das nuvens ameaçado é encontrado no estado do Rio  4x1q70

Pesquisadores da UFRRJ realizaram o resgate da espécie, criticamente ameaçada de extinção, no meio de uma área industrial no município de Seropédica 

Análises
27 de maio de 2021

A retórica da perda da Mata Atlântica nos lamentos dos Peixes das Nuvens ou do nosso Dilema do Tilacino 4th3z

Desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, quase todas as espécies de peixes das nuvens correm grave risco de extinção e é possível que algumas delas estejam praticamente extintas

Mais de ((o))eco 386al

biodiversidade 1l5w1a

Reportagens

O quão pouco já vimos das profundezas do mar 6f1i1a

Reportagens

Os dois macacos brasileiros entre os mais ameaçados do mundo 3m1n

Notícias

Financiamento coletivo ajuda na descoberta de duas espécies de peixes na Amazônia 47965

Reportagens

Situação da biodiversidade no RS após enchentes será conhecida em até 3 anos 524258

ictiofauna 3l4u50

Colunas

Uma arca ou uma Ubá? r4v65

Reportagens

No Canadá, ecoa antiga demanda pela criação do Parque Nacional do Albardão 5v344a

Notícias

Peixe das nuvens ameaçado é encontrado no estado do Rio  4x1q70

Análises

Floresta do Camboatá, onde as nuvens dão vida a um peixe 4m724e

fauna 4o414o

Notícias

Crise climática irá encolher o lar de anfíbios na América Latina 6vv6s

Reportagens

Os dois macacos brasileiros entre os mais ameaçados do mundo 3m1n

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 245z1d

Notícias

Financiamento coletivo ajuda na descoberta de duas espécies de peixes na Amazônia 47965

amazônia 245k3y

Reportagens

Polícia do Amazonas aperta o cerco contra a exploração de animais silvestres 1pm63

Notícias

Após pressão, Helder Barbalho pede fim dos embargos em Altamira 683q2l

Notícias

Alertas de desmatamento na Amazônia aumentam 55% em abril 4p6233

Reportagens

Os dois macacos brasileiros entre os mais ameaçados do mundo 3m1n

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.