Notícias

Congresso derruba veto ao Marco Temporal das Terras Indígenas 4x2942

Lei 14.701/23 volta a proibir existência de terras indígenas não ocupadas até data da promulgação da Constituição de 1988; Ministério e APIB prometem contestar no STF

Gabriel Tussini ·
14 de dezembro de 2023 · 1 anos atrás

O Congresso Nacional, em sessão conjunta de Câmara e Senado realizada hoje (14), derrubou o veto parcial do presidente Lula à Lei 14.701/23, que contém a tese do Marco Temporal das Terras Indígenas. Sem os vetos, o texto a a ter força de lei na forma como foi aprovado no Senado, estabelecendo como válidas apenas as terras ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. O Congresso levou a matéria à frente mesmo após o Supremo declarar a tese inconstitucional em setembro. Entre os deputados, o placar foi de 321 votos pela rejeição do veto presidencial, contra 127 a favor do veto. Já entre os senadores, o placar foi de 53 a 19 pela derrubada.

Além do Marco Temporal em si, a derrubada dos vetos proíbe a ampliação de qualquer terra indígena já demarcada, mesmo em caso de erros no processo, abre a possibilidade de “retomada” pelo governo de territórios demarcados, permite o cultivo de transgênicos, mineração e até a construção de estradas em terras indígenas, além de abrir a possibilidade de permanência de não-indígenas nas áreas em processo de titulação, com indenizações até a qualquer pessoa que se instalar e construir “benfeitorias” após a portaria declaratória, o inicial da demarcação. Os casos indenizáveis de desocupações de propriedades também foram ampliados, não se limitando apenas a quem ocupou alguma terra de “boa-fé”.

O Ministério dos Povos Indígenas afirmou, pelo X (antigo Twitter), que acionará a Advocacia-Geral da União para entrar com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) para “garantir que a decisão já tomada pela alta corte seja preservada”. Além do Ministério, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) já prometeu entrar com uma ADI contra a lei, e outras entidades também devem contestar a matéria na suprema corte, como adiantou ((o))eco na época do veto presidencial.

O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, Nilto Tatto (PT-SP), defendeu a inconstitucionalidade da matéria. “Derrubar o veto do Presidente Lula que trata do marco temporal não tem futuro. O Supremo não vai aceitar isso, porque nós estamos falando de uma cláusula pétrea que é a condição para a garantia de vida daqueles povos indígenas que lutam ainda pelo seu território”, comentou o deputado à Agência Câmara de Notícias.

Ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, e a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), no plenário da Câmara. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Antes da sessão, indígenas protestaram contra o Marco Temporal na Praça dos Três Poderes, ao lado de Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, e a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG). “É um placar que vai decidir não somente o rumo da vida dos povos indígenas, mas sobretudo o rumo da vida da humanidade. A tese do Marco Temporal coloca em risco inclusive a proposta da existência do ministério [dos Povos Indígenas], do trabalho da FUNAI, e sobretudo a existência dos povos indígenas, que são a principal para barrar a crise climática”, frisou a deputada no plenário, antes da votação.

A derrubada dos vetos era uma pauta prioritária da bancada ruralista no Congresso. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) comemorou a votação, citando supostos benefícios a “pequenos, médios e grandes produtores” e destacando seu trabalho para que “o agro brasileiro seja muito bem representado”. “Nós precisamos votar, e derrubar esse veto, principalmente, para que possamos trazer segurança pro campo. Segurança para aqueles que produzem e que seguraram esse país nas costas durante anos. Se há um setor nesse país que dá certo, é o agro”, disparou, durante a sessão, o deputado Joaquim arinho (PL-PA).

Chamam a atenção, ainda, os votos pela derrubada do veto por parte do ministro da Agricultura e Pecuária, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT, que reassumiu o mandato apenas para votar) e de três deputados do Partido Verde: Bacelar (BA) – que se define como “defensor da educação, do meio ambiente e das minorias” nas redes sociais e é vice-líder do governo na Câmara –, Jadyel Alencar (PI) e Luciano Amaral (AL).

  • Gabriel Tussini 5a4y6a

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

Leia também 1b437

Notícias
20 de outubro de 2023

Lula veta parcialmente projeto de Lei do Marco Temporal 2za4f

Veto parcial seria uma forma de o presidente não entrar em embate com bancada ruralista no Congresso. Expectativa era que proposta fosse vetada integralmente

Salada Verde
21 de setembro de 2023

Supremo declara inconstitucional a tese do marco temporal 3m4gh

Com voto de Fux, STF rejeita a validade da tese. Ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber acompanharam o relator. Indígenas comemoram pelo país

Salada Verde
7 de novembro de 2023

Congresso decide na quinta-feira se aceita veto de Lula sobre Marco Temporal 6f2i52

Maioria dos parlamentares defende a tese, aprovada por 283 deputados e 43 senadores. Aprovação da reforma tributária teria sido moeda de troca

Mais de ((o))eco 386al

STF 55172e

Salada Verde

Terras alvo de desmates e incêndios criminosos podem ser expropriadas 3d3253

Notícias

Obrigação de pagar por reparação de dano ambiental não prescreve, determina STF fs2e

Notícias

STF põe fim definitivo na presunção de boa-fé no comércio de ouro 2s6x6o

Notícias

STF quer que Congresso assegure participação de indígenas nos ganhos de Belo Monte 626973

terras indígenas 4s7353

Análises

O direito dos Mbya Guarani de manejar seu território sobreposto pela Rebio Bom Jesus 1m3r3

Reportagens

Cientistas e ongs criticam acordo que mantém caça numa reserva biológica de Mata Atlântica 6t5d3w

Notícias

Liminar federal barra ocupações de indígenas no Parque Nacional do Iguaçu 221kk

Salada Verde

Lewandowski assina portarias declaratórias de 7 terras indígenas em SP 1ok5c

marco temporal 6bdk

Reportagens

Para substituir Marco Temporal, Gilmar Mendes propõe mineração em terras indígenas até contra vontade dos povos 175d4d

Reportagens

Gilmar Mendes propõe liberar mineração em terras indígenas, acolhendo sugestão de advogado da Potássio do Brasil 1gxd

Notícias

Apib se distancia de novos representantes indígenas da comissão do Marco Temporal no STF 4oj6p

Notícias

PM mata indígena em fazenda de indicada à comissão de conciliação do Marco Temporal 65g42

política ambiental 5n5325

Notícias

Transição energética entra de forma discreta na terceira carta da Presidência da COP30 161u3k

Análises

Que semana, hein? 6s4y4a

Análises

Pela transição energética Norte-Sul pactuada na COP30 3t5v4u

Notícias

Governo, ongs e sociedade civil se manifestam contra aprovação do PL do Licenciamento 51131e

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.