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Ilegalidade atinge ao menos 58% do comércio de mercúrio no Brasil, mostra estudo 706t29

Análise do Instituto Escolhas levou em conta apenas ouro produzido em áreas com permissão de lavra garimpeira. Mercúrio ilegal pode ter vindo da Bolívia e Guiana

Cristiane Prizibisczki ·
4 de junho de 2024

Estudo divulgado nesta terça-feira (4) pelo Instituto Escolhas mostra que 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido usadas para a extração de ouro nos garimpos brasileiros, entre 2018 e 2022. Esse volume de mercúrio comercializado ilegalmente refere-se somente ao ouro extraído em áreas com permissão de lavra garimpeira. Isto é, o volume de mercúrio que circula ilegalmente no país é ainda maior.

Entre 2018 e 2022, foram produzidas 127 toneladas de ouro registradas em áreas com permissão de lavra garimpeira no Brasil. Segundo o trabalho, para que fosse possível extrair tal montante, entre 165 e 254 toneladas de mercúrio foram utilizadas.

O problema é que, nos cinco anos analisados, o país – que não é produtor de mercúrio – importou apenas 68,7 toneladas do metal. Isso indica que entre 96 e 185 toneladas de mercúrio, ou entre 58% a 73% do total, pode ter origem ilegal. 

“Esse dado preocupa porque revela uma enorme falha do controle oficial sobre o comércio de algo que representa um grave perigo à saúde humana e ao equilíbrio ambiental. O Brasil precisa se comprometer com o fim do uso do mercúrio e, até que isso ocorra, o mínimo que se espera é um controle rígido sobre o mercúrio que ainda circula no país”, alerta Larissa Rodrigues, pesquisadora do Escolhas e responsável pelo estudo.

Segundo ela, a estimativa de mercúrio ilegal que foi levantada no trabalho é ‘conservadora’. O volume de ouro produzido entre 2018 e 2022, apesar de vir de áreas com permissão, explica ela, pode não ser totalmente legal. O que se tem certeza, no entanto, é que o volume de mercúrio ilegal que circula no país é maior do que o estimado.

 “Sabemos que muitas áreas [com permissão de lavra garimpeira] são usadas justamente para ‘esquentar’ ouro ilegal. Então, nesse volume de ouro que consideramos, tem tanto ouro legal como ilegal. Mas é verdade que a quantidade de mercúrio comercializada sem origem/potencialmente ilegal, pode ser maior, sim. Nosso número é conservador”, disse a pesquisadora, a ((o))eco.

Os dados levantados pelo Instituto Escolhas para os últimos anos são corroborados com uma análise mais longa no tempo. Números oficiais indicam que, nas últimas duas décadas, enquanto as exportações brasileiras de ouro e as áreas dedicadas aos garimpos triplicaram, as importações oficiais de mercúrio caíram 78%. Entre 2002 e 2022, as exportações de ouro aumentaram de 35 toneladas para 96 toneladas por ano, e as áreas dedicadas aos garimpos saíram de 68 mil hectares para 224 mil hectares.

Já as importações oficiais no país caíram de 67 toneladas para 15 toneladas por ano. “Isso também aponta para uma possível ilegalidade no comércio de mercúrio, já que os garimpos não deixaram de usar o produto para extrair o ouro”, diz o trabalho.

A hipótese levantada pelos pesquisadores é que o mercúrio usado no país tenha vindo da Bolívia, que é o maior importador de mercúrio da região e um dos maiores do mundo. Entre 2018 e 2022, o país importou 723 toneladas de mercúrio e exportou 196 toneladas de ouro. Ou seja, importou cerca de dez vezes mais mercúrio que o Brasil para produzir apenas 1,5 vezes mais ouro.

Outros países que chamam a atenção são Guiana e Peru. A Guiana, que é o segundo maior importador de mercúrio da região e um dos maiores do mundo, também já foi confirmada como uma rota de mercúrio ilegal para o Brasil.

  • Cristiane Prizibisczki 48324h

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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