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No Pantanal, animais à procura de água param de evitar humanos 64f10

Em São Pedro da Joselândia, animais precisam andar quilômetros atrás de água. Em Barão de Melgaço, uma anta veio a óbito por causa seca. Saiba como foi o nosso segundo dia em campo

Leandro Barbosa · Victor Del Vecchio · Gabriel Schlickmann ·
5 de setembro de 2021 · 4 anos atrás

Uma mistura de cantos de pássaros somados aos gritos de um grupo com cerca de 10 araras foi a sinfonia do nosso café da manhã. As aves que vivem no entorno e em Barão de Melgaço já sabem que na Pousada Rio Mutum é um lugar possível de se encontrar fartura de alimentos em um Pantanal cada vez mais seco e queimado. 

Pra você ter uma ideia da situação por aqui, hoje nos encaminharam um áudio de um senhor que mora em São Pedro da Joselândia, a quase 100 km de Barão de Melgaço, onde ele dizia que os animais em busca de água nem fogem mais dos humanos, na esperança de saciarem a sua sede.

“É desesperador a situação que a gente se encontra. Já tem lugar que teve que cortar a água, mas não tem outra saída. No Pantanal nosso aqui, o gado tem que caminhar 12, 15 quilômetros para beber água. Os animais pequenos, os veados e as antas nem fogem mais da gente. Pra você ver o tamanho da sede que eles têm”, disse o homem aflito no áudio. 

Ouriço-cacheiro. Foto: Gabriel Schlickmann.

Há dois dias, brigadistas do Polo Socioambiental do Sesc Pantanal voltando do combate a um incêndio, encontram na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), em Barão de Melgaço, que pertence à instituição, um grupo de oito antas mergulhadas em um lamaçal que outrora era um tanque que sempre foi referência de hidratação para os animais. Elas estavam com fome e sedentas por água. Apesar dos esforços e de disponibilizarem água e comida, uma delas veio a óbito e as outras estão sendo acompanhadas por uma equipe do local. Amanhã seguiremos pra lá.

Apesar do sentimento de impotência que aparece nestes momentos tão difíceis, são pequenos acontecimentos que nos fortalecem. Hoje, um deles foi a amizade entre um macaco bugio e um ouriço-cacheiro. O macaco foi resgatado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso, o ouriço foi encontrado perdido de sua mãe em meio aos incêndios que assolavam o bioma no ano ado. Ambos estão abrigados nos recintos da Mutum. Enquanto nós filmávamos o local e acompanhávamos a rotina de tratamento dos bichos, fomos capturados pelo momento em que os dois brincavam e se alimentavam juntos. Um detalhe do dia que foi capaz de nos lembrar que apesar de toda a dificuldade enfrentada pelo bioma, se mudarmos os nossos hábitos e políticas em relação ao meio ambiente, a natureza é resiliente e capaz de superar tudo isso.

Foto: Gabriel Schlickmann.

Pantanal ameaçado é um projeto de Leandro Barbosa, Victor Del Vecchio, Lina Castro e Gabriel Schlickmann, financiado coletivamente e que conta com o apoio da iniciativa Observa-MT.

  • Leandro Barbosa 5x2j5i

    Jornalista, com publicações nos jornais The Intercept Brasil, Ponte Jornalismo, Globoplay, El País Brasil, UOL, Yahoo, Agência Pública e na revista americana Atmos

  • Victor Del Vecchio 5n3f3j

    Advogado e mestrando em Direito Internacional pela USP, professor da Casa do Saber

  • Gabriel Schlickmann 3n344w

    Fotógrafo autônomo, trabalha como fotojornalista para agencias nacionais

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