
Dory é aquela peixinha de “Procurando Nemo” que perde a memória a todo momento. Algo parecido está acontecendo com seis espécies de peixes que vivem na Grande Barreira de Corais, no Mar Vermelho, na Ásia e no Caribe. Uma pequena concentração de derivados de hidrocarbonetos – algo como um par de gotas em uma piscina – foi o bastante para que algumas espécies de peixes típicas de corais marinhos tivessem o desenvolvimento do sistema nervoso comprometido, ando a apresentar comportamento que contrariam o instinto de sobrevivência, como a dispersão dos cardumes, o deslocamento para mares abertos e a perda da capacidade de reconhecer predadores, como revela uma pesquisa divulgada hoje pela revista científica Nature Ecology & Evolution.
De acordo com o pesquisador australiano Jodie Rummer, da James Cook University, co-autor do estudo, a poluição nos arredores dos corais, especialmente por petróleo, tem de ser rapidamente interrompida, sob o risco de colocar os peixes sob forte ameaça e, consequentemente, todo o ecossistema de corais. “Os peixes de corais formam a base da cadeia alimentar de predadores maiores. Em menor quantidade, reduzem a capacidade de o ecossistema resistir e se recuperar a perturbações ambientais cada vez mais comuns, como a pesca predatória e o aquecimento dos oceanos”, afirmou.
“O petróleo é altamente tóxico ao ambiente marinho e prejudica diretamente os quatro primeiros estágios da vida dos peixes, o momento mais crítico de luta pela sobrevivência”, disse Rummer. Em outras palavras, significa que os peixes que nascem em águas com alguma concentração de petróleo são mais ‘abobados’, segundo Rummer, e tem uma chance menor se superar o período pós-eclosão, que inclui o período larval; a fase em que a espécie busca encontrar seu habitat adequado; o período em que aprendem a identificar e evitar predadores.
Apenas nos últimos 35 anos o planeta perdeu cerca de 19% dos recifes de coral do mundo e mais 15% devem sumir nas próximas duas décadas. A perda dos corais também ameaça a sobrevivência de 400 milhões de pessoas que dependem diretamente dos recifes para sobreviver: o ecossistema fornece cerca de US$ 30 trilhões em receitas anuais que resultam da pesca e do turismo.
As pequenas concentrações de óleo usadas no estudo já são comuns em muitas regiões costeiras do planeta onde há perfurações para a exploração de petróleo. Mais de seis milhões de toneladas de derivados do petróleo já foram lançados no oceano este ano, resultado de processos industriais e de transporte e mais de 340 grandes acidentes com derramamento de petróleo aconteceram nos últimos 40 anos, o que significa cerca de 3.900 milhões de toneladas de petróleo bruto derramados no mar. Mesmo assim, muitos governos ainda estimulam o aumento da atividade industrial nas proximidades dos habitats de recifes, vide o exemplo dos corais da Amazônia.
No extremo norte do Brasil, no encontro do Rio Amazonas com o mar, um recife de 9,5 mil quilômetros quadrados de formações, que incluem esponjas gigantes com mais de 2 metros de comprimento e algas calcárias, estão sob forte ameaça. Justamente nesta Bacia está sendo preparada uma base para a exploração de petróleo, já com os processos de licenciamento ambiental em andamento.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. |
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Prezados, sei que não foi proposital, mas não se trata do pesquisador, mas da pesquisadora. A dra. Jodie é mulher.
Como "naturalmente" a maioria entende que pesquisadores ou doutores são homens, nem se dão ao trabalho de conferir a informação.
Além disso, fiquei muito curiosa como se chegou a conclusão que peixes, no estágio inicial, em locais mais poluídos são mais "abobados".
Me parece tão inverosímel que seja possível medir isso que, realmente, só tendo o aos dados da pesquisa. Sem eles, o release carece de credibilidade. Um mínimo de dados deveriam ser apresentados antes de se lançar a uma conclusão tão enfática.
Parece que temos uma militante aqui