Notícias

Píton solta no Parque Nacional da Tijuca é capturada por cachorro 1s3a4h

Solta por erro do Corpo de Bombeiros, a cobra, que é nativa da África, foi recapturada graças a um cachorro, também invasor, que abocanhou a serpente e levou pro dono

Duda Menegassi ·
9 de março de 2023 · 2 anos atrás

O Rio de Janeiro não é para amadores, como dizem por aí. Essa frase ilustra bem a resolução do “caso píton” no Parque Nacional da Tijuca, com a recaptura do animal. A cobra, nativa da África, foi solta no parque na última sexta-feira (3), pelo Corpo de Bombeiros, que erroneamente achou que se tratava de uma jiboia – essa sim nativa da Mata Atlântica e do Brasil. Descoberto o erro, as buscas começaram já no dia seguinte e prosseguiam até esta quarta-feira (8), sem sucesso. Foi então que outro invasor, este já bem comum na floresta carioca, entrou em cena: o cachorro doméstico. O cão, vindo de uma das casas do entorno, deu de cara com a píton em seu “eio no parque” e atacou a cobra, que não é venenosa. No embate entre invasores, o cachorro levou a melhor e carregou seu prêmio – o corpo todo ferido da píton – de volta para casa.

Quando o dono do cachorro se deparou com a cobra dentro de casa, acionou o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro (CBMERJ). Ao chegarem no local, prontamente acionaram o veterinário e biólogo Jeferson Rocha Pires, responsável pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Rio de Janeiro, da Universidade Estácio de Sá (CRAS Unesa), para fazer a identificação do animal e prestar atendimento. A identidade foi então confirmada, trata-se da mesma píton-ball (Python regius) solta há seis dias na floresta.

A confirmação foi possível através da comparação com as fotos feitas na soltura. Estas cobras possuem um padrão único de manchas e desenhos ao longo do corpo, que funcionam como uma impressão digital.

Comparação da foto feita durante a soltura com a píton capturada para confirmar identidade da cobra. Foto: Divulgação

No atendimento de emergência prestado pelo veterinário do CRAS, a píton, que sofreu várias mordidas do cachorro, precisou levar pontos e receber medicação. A cobra estaria em situação preocupante de saúde, conforme divulgado em nota. Ainda assim, ela deve seguir nesta quinta-feira (09) para o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama (CETAS-RJ/IBAMA), em Seropédica.

Atualização: pouco depois de publicada a matéria, às 12:10, o Corpo de Bombeiros informou que a cobra não resistiu aos ferimentos e morreu nesta quinta-feira (09/03/2023).

Por mais que a recaptura da píton deva ser comemorada, o desfecho da história ilustra como a ameaça das espécies invasoras está longe de ser resolvida no parque. 

Em comunicado oficial divulgado à imprensa, o Parque Nacional da Tijuca reforçou a problemática atual da existência de espécies exóticas dentro de uma unidade de conservação. “Tanto a píton quanto o cachorro, dependendo de onde estejam inseridos, se tornam invasores e colocam a fauna nativa em perigo. A píton foi solta por engano; já os cachorros são soltos dentro do parque propositalmente, sejam abandonados por tutores que não os querem mais como PET ou simplesmente soltos (dentro ou nas áreas limítrofes do Parque) para se divertir como se estivessem em um quintal de uma residência – mas, eles não estão”, ressalta o texto.

O documento explica ainda que o parque faz campanhas de conscientização periódicas sobre a presença de animais exóticos dentro da unidade de conservação, com foco nos cachorros, para que as pessoas entendam os motivos dele não ser permitido dentro de uma área de proteção ambiental e terem mais responsabilidade nos cuidados com seu próprio pet.

“Tratando especificamente do Parque Nacional da Tijuca, tão problemático para a fauna nativa quanto uma píton são as dezenas de cães que perambulam, livremente, no entorno da UC e acabam entrando para caçar (como foi feito com a píton). Eles são tão invasores quanto a píton, mas, mesmo assim, algumas pessoas que moram perto do PNT não os mantêm dentro de suas residências. Já outros donos acham fofo levá-los para o Parque; há quem, inclusive, abandone esses animais na Floresta da Tijuca. Cachorros formam matilhas grandes, que são responsáveis por caçar presas pequenas ou maiores que eles. Colocam em risco não só as espécies já existentes, mas também as que estão sendo reintroduzidas por projetos sérios e que fazem trabalhos de refaunação há mais de uma década, como o Refauna”, conclui a nota.

Em abril de 2021, por exemplo, um dos jabutis-tingas reintroduzidos pelo Refauna morreu depois de sofrer um ataque de cachorros.

Matéria atualizada às 12:10, do dia 09/03/2023 para incluir que o Corpo de Bombeiros informou que a cobra não resistiu aos ferimentos e morreu nesta quinta-feira.

  • Duda Menegassi 3d542y

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também 1b437

Reportagens
6 de março de 2023

Píton segue “foragida” no Parque Nacional da Tijuca depois de soltura equivocada 6v1il

Corpo de Bombeiros realizou a soltura equivocada da cobra, que não é nativa do Brasil, na sexta-feira (03), acreditando se tratar de uma jiboia. Buscas seguem para recapturá-la, ainda sem sucesso

Reportagens
6 de abril de 2020

Animais domésticos matam bilhões de silvestres e levam espécies à extinção 4i3x3s

Em seu novo livro – Unnatural Companions – Peter Christie aborda a magnitude dos impactos que animais domésticos têm sobre a conservação no mundo todo

Notícias
29 de abril de 2021

Morte de Jabuti acende alerta para problema de cães no Parque Nacional da Tijuca 2i1y64

Godzilla, maior jabuti reintroduzido pelo Projeto Refauna no parque carioca, foi atacado por cachorros no início do mês e chegou a ar por cirurgia para reconstrução de casco, mas não resistiu

Mais de ((o))eco 386al

serpentes 673ud

Colunas

Surucucu Solteira Procura 6le1o

Colunas

Encontro com a Rainha da Noite 1h1h5w

Reportagens

Adaptações ao ambiente podem explicar o padrão de distribuição das serpentes no Chaco 6j1j2c

Reportagens

Píton segue “foragida” no Parque Nacional da Tijuca depois de soltura equivocada 6v1il

espécies exóticas 4l5032

Notícias

Conheça oito espécies da flora invasora que ameaçam a biodiversidade brasileira 6x3s6r

Salada Verde

Alemanha é o grande destino europeu do tráfico animal da América Latina 4s2s5h

Notícias

Cães, gatos e mangueiras: a invasão biológica que ameaça as áreas protegidas 2n5448

Salada Verde

40 toneladas de chifres de cervos confiscadas na capital argentina 95n5g

rio de janeiro 64348

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 5o2g6f

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 245z1d

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras 2k566y

Salada Verde

Câmera flagra primeira travessia de onça-parda em viaduto vegetado 3e3t10

unidades de conservação 4x4ed

Colunas

Mercantilização e caos no licenciamento ambiental brasileiro 6y4jn

Notícias

Com mudanças de última hora, projeto-bomba do Licenciamento é aprovado no Senado 38r1b

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 5o2g6f

Reportagens

Maior área contínua de Mata Atlântica pode ser mantida com apoio do turismo 91ys

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 3 5w2h3b

  1. Jonathan Pôrto diz:

    Cachorro tbm invasor? Vale tudo pra “AMBICHATO” lacrar !! Deveriam dar uma medalha pra esse cachorro, livrou crianças de se tornarem futuras vítimas dessa Píton !!


  2. José Laureano da Silva Neto diz:

    Até quando as autoridades ambientais vão esperar para uma providência infalível?: A captura desses cães abandonados. Daí veremos em pouco tempo um bom resultado.


  3. NÁDIA M A SANTOS diz:

    Lamentável esse desfecho, pela entrega indevida dessa cobra sendo confundida por uma outra espécie, que resultou a sua morte.