Reportagens

Esponjas calcárias: novas espécies à vista 4r4yz

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro estão catalogando e pretendem produzir um mapa da distribuição das espécies.

Vandré Fonseca ·
3 de maio de 2013 · 12 anos atrás
No Brasil são conhecidas aproximadamente 50 espécies, distribuídas em pouco mais de 15 gêneros. Foto: João Carraro
No Brasil são conhecidas aproximadamente 50 espécies, distribuídas em pouco mais de 15 gêneros. Foto: João Carraro

Manaus, AM – O número de espécies de esponjas calcárias conhecidas ao longo da costa brasileira tende a dar um salto nos próximos meses, graças ao trabalho de pesquisadores do Laboratório de Biologia de Porifera da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LaBiPor/IB-UFRJ). Eles estão catalogando uma coleção de aproximadamente 200 exemplares desses animais coletados no litoral do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. E acreditam que ali estejam espécies ainda não descritas pela ciência.

De acordo com a bióloga Fernanda Azevedo, que faz pós-doutorado no Departamento de Zoologia, do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente são conhecidas cerca de 50 espécies de esponjas calcárias no litoral brasileiro, divididas em pouco mais de 15 gêneros. A expectativa é que a análise de fragmentos do DNA de esponjas já coletadas possa levar a descrição de cerca de 10 novas espécies. “Vai ser uma grande contribuição para o conhecimento da biodiversidade do Sul e Sudeste”, comemora a bióloga. Mas esta é apenas a primeira etapa do trabalho.

Na segunda etapa, a intensão é produzir um mapa com a distribuição das novas espécies e também daquelas que já são conhecidas, onde será possível sobrepor informações ambientais, como temperatura e correntes marinhas. “Um mapa complexo que demonstra onde o estudo está se concentrando, as áreas endêmicas das esponjas calcárias e que pode auxiliar políticas voltadas para a conservação, propondo por exemplo áreas prioritárias a serem protegidas“, explica Fernanda Azevedo.

Esponjas calcárias

Sem cores exuberantes e escondidas em locais escuros, como fendas ou embaixo de pedras, as esponjas calcárias estão entre os mais tímidos poríferos, animais fixos, predominantemente marinhos e que se alimentam filtrando a água que a por seus poros. A falta de cor e os locais preferidos delas podem ser explicados por uma desvantagem que as esponjas calcárias têm na hora de brigar por espaços no fundo do mar. Elas não são capazes, como fazem outras esponjas, de produzir substâncias químicas especiais.

Essas substâncias são responsáveis pela variedade de cores desses animais. Mas não são apenas um enfeite, são substâncias que servem para as esponjas interagirem com o ambiente, afastando, por exemplo, os predadores. Claro que uma qualidade como essa desperta o interesse da indústria farmacêutica, que já encontrou nas esponjas matéria-prima para a produção de diversos tipos de medicamentos. Sem essas armas químicas, resta às esponjas calcárias se esconderem em locais mais escuros.

As calcárias, porém, possuem um esqueleto formado por espículos de bicarbonato de cálcio que só elas têm. E é preciso destacar também o papel ecológico importante que elas desempenham: filtrando a água do mar enquanto se alimentam. Além disso, as esponjas servem também como bioindicadores, de acordo com a bióloga Fernanda Azevedo,. “Em locais poluídos, as mais susceptíveis começam a desaparecer, mas algumas espécies mais resistentes se proliferam”, afirma a pesquisadora.

As esponjas am a maior parte do tempo fixas, apenas durante a fase de larva se deslocam, até aderirem ao substrato. São fonte de alimento para peixes e moluscos, e também servem de abrigo para uma fauna marinha, que pode morar tanto dentro das esponjas quando fora delas. Mas atualmente, estão ameaçadas.

O aquecimento global aumenta a concentração de dióxido de carbono e altera a química da água do mar, tornando ela mais ácida, o que afeta as estruturas de cálcio. “As espículas desses organismos poderão ficar fragilizadas, dificultando a sustentação das esponjas”, relata a bióloga. A poluição marinha gerada pela ocupação desordenada da região costeira e a chegada de espécies invasoras são outras ameaças.

A pesquisa “Biodiversidade e padrões de endemismo de esponjas calcárias na costa brasileira” está sob a responsabilidade da Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN/UFRJ) e é financiada pela Fundação Boticário. Ela deve ser concluída até o final do ano.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas


  • Vandré Fonseca 5j195d

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

Leia também 1b437

Reportagens
16 de fevereiro de 2006

Esponjas que curam 94p3j

Trinta novas espécies de esponjas marinhas são descobertas no Sul do país. Pesquisas inéditas revelam que elas podem ajudar no tratamento de doenças graves.

Salada Verde
30 de maio de 2025

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 3e3u1p

Mobilização ocorre em ao menos 12 capitais. Protestos estão marcados para ocorrer neste domingo e marcam o início da semana do meio ambiente

Salada Verde
30 de maio de 2025

Chance de aquecimento da Terra ultraar 1,5°C aumentou, mostra estudo 6h3f5g

Países caminham para que a principal meta do Acordo de Paris seja descumprida. Chance de que o aquecimento fique entre 1,5ºC e 1,9ºC em pelo menos um dos próximo cinco anos é de 86%, diz ONU

Mais de ((o))eco 386al

fauna 4o414o

Notícias

Estudo aponta multiplicação preocupante do peixe-leão no litoral brasileiro 2y2a21

Colunas

Cientistas negras viram a Maré: protagonismo e resistência na ecologia, evolução e ciências marinhas 6m1s35

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção d7343

Notícias

A alta diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 54d1h

conservação 4u55e

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios p2065

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI 3l3w55

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso o1s2e

Reportagens

Ajustes em trilha podem melhorar sua função de corredor ecológico no Cerrado 4k6c5j

oceanos 415a65

Reportagens

O quão pouco já vimos das profundezas do mar 6f1i1a

Salada Verde

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução 1b186g

Notícias

Projeto quer reduzir APA da Baleia-Franca, em Santa Catarina 69132m

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras 2k566y

icmbio u5v14

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção d7343

Notícias

Conheça os oito parques nacionais mais visitados em 2024 4h2g22

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 245z1d

Salada Verde

Enquete mantém alta rejeição a rebaixamento da Serra do Itajaí de parque para floresta nacional 1a2x3r

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.