Reportagens

Conservação sob ameaça 2k5833

Censo demonstra que população do papagaio-de-cara-roxa no Paraná pode estar diminuindo. Após 10 anos de monitoramento, projetos de proteção à espécie sofrem com falta de verbas.

Romeu de Bruns Neto ·
26 de junho de 2008 · 17 anos atrás

A ONG SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), do Paraná, acaba de divulgar resultado do censo 2008 de uma das aves-símbolo do estado, o papagaio-de-cara-roxa, ou chauá, que habita a região norte do litoral paranaense, um dos mais preservados remanescentes da Floresta Atlântica no país. Os números representam uma redução em relação ao ano anterior: de 4.821 em 2007, para 4.039 neste ano.

Esse dado não é suficiente para afirmar que a população está diminuindo. Nos três dias em que a contagem foi realizada (31 de maio a 1 de junho), com a participação de 25 voluntários, fez muito frio, o que deve ter levado muitos papagaios a ficarem nas árvores em que se alimentam, no continente. “É uma logística e tanto fazer um censo como esse. Tem de providenciar transporte, hospedagem, alimentação, contratar barqueiro. Uma vez que esteja tudo encaminhado, não se pode voltar atrás, mesmo que o tempo vire, como foi o caso neste ano”, explica a bióloga Elenise Sipinski, coordenadora do projeto, que acompanha a empreitada desde o início, há 10 anos.

Ela conta que a metodologia de contagem é relativamente simples. Os chauás têm o hábito de se deslocar, ao final da tarde, para as ilhas-dormitório (Ilha do Cotinga, Ilha do Mel, Pinheiro, Guaratuba e Ilha Rasa). Voam geralmente em casais e formando grupos pequenos. Os participantes do censo são colocados em pontos estratégicos e anotam em uma ficha a agem das aves. “A melhor época para a contagem é o outono, quando há maior concentração de papagaios”, diz a bióloga.

Para saber mesmo se a população de chauás diminuiu, só mesmo com uma nova contagem, o que irá ocorrer em 2009. Em épocas de vacas mais gordas, o projeto já chegou a promover mais de um censo por ano. Mas houve uma redução do número de patrocinadores, que hoje se limitam à fundação espanhola Loro Parque, Fundo Nacional do Meio Ambiente e à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. Esse apoio permite manter a contagem anual de chauás e remunerar dois moradores da região que fazem o monitoramento dos ninhos permanentemente. Outras ações, no entanto, como pesquisas científicas e ações de educação ambiental, foram paralisadas. “Mantivemos o que consideramos prioritário”, afirma Elenise.

Os chauás, que têm como principal ameaça a captura para criação em cativeiro, utilizam espaços ocos de árvores para fazerem seus ninhos. Para favorecer a reprodução da espécie, a SPVS instalou na região, entre 2003 e 2007, 70 ninhos artificiais, alcançando a ocupação de mais da metade deles. As pesquisas indicaram que os animais que utilizaram a estrutura artificial obtiveram mais sucesso reprodutivo que os demais. Em 40 ninhos naturais monitorados em 2007, nasceram 40 papagaios, mas somente 20 chegaram à idade adulta. Já nos 70 ninhos artificiais nasceram 63 papagaios e o índice de sobrevivência dos filhotes chegou a 89%.

A realização do censo é, portanto, a medida de verificar a eficiência das medidas conservacionistas adotadas. E um trabalho desse tipo, que elege uma “espécie-bandeira” para ser trabalhada, na realidade traz benefícios para todo o meio ambiente. “Para que a espécie se mantenha, a floresta precisa ser conservada”, resume Elenise. Esse era o principal enfoque do ramo de educação ambiental do projeto, que agora está engavetado.

* Romeu de Bruns é jornalista free-lancer no Paraná.

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