Reportagens

Marco zero do desmatamento 2m481k

Sipam apresenta resultado de estudo sobre desmatamento em reservas ao longo da BR-319. Os dados servirão de base para monitoramento constante.

Vandré Fonseca ·
23 de abril de 2010 · 15 anos atrás


Imagem de satélite da região da BR 319 e as áreas protegidas (em vermelho) no entorno. Use cursores para explorar. Clique aqui para baixar arquivo completo para Google Earth (imagem: Google Earth)

Apenas 1% das áreas protegidas ao longo da BR-319, entre Manaus (AM) e Porto Velho(RO) está desmatado, segundo relatório do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).

Os dados apresentados neste mês de abril representam o total de floresta destruí­da na região até 2009 e vai servir de base para medir os impactos da pavimentação da rodovia, obra do governo federal que faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Veja entrevista com Bruno Gama Monteiro, do Sipam

“Este é o marco zero, analisamos o desmatamento até 2009. Em seguida, vamos fazer o cálculo do incremento do desmatamento”, explicou o gerente do Sipam no Amazonas e Roraima, Bruno da Gama Monteiro. “Um por cento pode parecer irrisório, mas merece uma análise detalhada de cada área”, completa.

A equipe do Sipam utilizou imagens do LandSat, com definição de até 30m X 30m por pixel, para analisar o grau de interferência humana em 51 unidades de conservação e terras indígenas na Área de Limitação istrativa Provisória (Alap) da rodovia, estabelecida pelo governo federal em janeiro de 2006. Duas reservas indí­genas ficaram fora do estudo (Itaitinga e Ilha do Camaleão) devido à resolução do satélite.

Duas vezes a Paraíba

No total, foram analisados mais de 12 milhões de hectares, uma área equivalente a dois estados da Paraí­ba ou quase do tamanho do Amapá. Deste total, cerca de 112 mil hectares sofreram com ação do homem. No caso de unidades de conservação e terras indí­genas que não estavam totalmente dentro da Alap, considerou-se a extensão total da reserva. Foram 31 TIs, 11 UCs Estaduais e 8 Federais.

As TIs têm proporcionalmente a maior área desmatada. Porém por serem pequenas, têm pouco peso na análise geral do desmatamento. Um exemplo é a TI Recreio/São Félix, que já teve quase 80% da área desmatada, o que significa 187,61 hectares em termos absolutos.

Desmatamento no entorno da BR 319
Áreas Especiais Área total  (ha) Área antropizada (ha) Proporção (%)
 UCs estadual  4.392.779,54  66.197,72   1,7%
 Terras Indígenas  1.540.522,25  15.216,79   0,9%
 UCs Federal   6.426.263,28  30.954,37  0,5%
 Total 12.359.565,67   112.367,89  1,0%

Em situação inversa estão duas unidades criadas em 2008 pelo governo federal no sul do Amazonas, o Parque Nacional do Mapinguari e a Floresta Nacional do Iquiri. O Parna possui proporcionalmente um baixo í­ndice de antropização, apenas 0,6 %. No entanto, é uma das maiores áreas desmatadas entre as reservas analisadas, 10.410,68 hectares.

A Floresta Nacional do Iquiri também possui grande área desmatada, apesar deste desmatamento ser proporcionalmente pequeno ao tamanho da unidade de conservação. São 9.339,45 hectares de floresta derrubada, o que representa 0,6% da Flona.

A campeã da destruição

A Área de Proteção Ambiental do Rio Negro é a campeã de destruição da floresta, com 53.558,13 hectares, de um total de mais de 460 mil hectares de floresta já foram derrubados. A área equivale a 11% do território da APA, tipo de unidade de conservação com menos restrições à  derrubada de árvores.

Em comum estas três unidades com grande área desmatada têm a localização próxima a centros urbanos. A APA Rio Negro fica perto de Manaus (AM), enquanto Mapinguari e Iquiri ficam na parte sul da rodovia 319, perto de Porto Velho (RO).

Veja entrevista com Mônia Fernandes, do ICMBio

De acordo com a coordenadora substituta do Instituto Chico Mendes em Manaus, Mônia Fernandes, é preciso considerar as diferenças entre os tipos de UCs, para fazer uma análise mais precisa sobre o desmatamento. “Uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável vai apresentar uma área desmatada um pouco maior, que representada roçados e áreas onde vivem os moradores”, explica.

Além disso, há casos de unidades criadas justamente onde existe pressão de desmatamento. A derrubada da floresta pode ter ocorrido antes da criação da reserva. Os números apresentados pelo Sipam ainda não são suficientes para comparar o ritmo de desmatamento ano a ano. Entretanto serão essenciais para controlar e fiscalizar os impactos da pavimentação da rodovia que já está em processo avançado de licenciamento.

*Vandré Fonseca é repórter em Manaus

Veja também
BR 319: impactos além do Amazonas
Caminho livre no coração da Amazônia




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Geonotícia – BR 319

  • Vandré Fonseca 5j195d

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

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