Reportagens

A Amazônia que o BNDES financia 3u4015

Pela lei de o à informação, a Pública obteve 43 contratos do BNDES com grandes corporações nacionais para empreendimentos na Amazônia. Leia e baixe aqui os documentos

Bruno Fonseca · Jessica Mota ·
5 de dezembro de 2013 · 11 anos atrás

Concluída em 2011, a ponte sobre o Rio Negro, em Manaus, recebeu R$ 586 milhões do BNDES. A Pública obteve o cotrato de financiamento da obra.
Concluída em 2011, a ponte sobre o Rio Negro, em Manaus, recebeu R$ 586 milhões do BNDES. A Pública obteve o cotrato de financiamento da obra.

Nos calhamaços de papel assinados e rubricados diversas vezes por gigantes da economia brasileira – Vale, Eletrobrás, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Votorantim, Alcoa, dentre outros -, saltam cifras de 500 milhões, 1 bilhão, até quase 10 bilhões de reais. São os contratos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a uma série de megaempreendimentos na Amazônia, que não são disponibilizados publicamente pelo banco, embora todas essas obras sejam custeadas com o dinheiro de impostos.

A Pública entrou com um pedido de o à informação para obter os contratos dos principais investimentos do BNDES em projetos de infraestrutura na Amazônia brasileira e obteve 43 contratos que revelam detalhes sobre o financiamento de projetos de empresas e estados – as garantias exigidas, os compromissos socioambientais acordados – e descobriu que, na prática, muitas dessas obras desrespeitam o que foi assinado, contribuindo para muitos dos problemas que a reportagem vem encontrando ao longo da produção dessa série, motivando inclusive ações judiciais.

O curioso é que isso ocorre apesar da complexidade de procedimentos que o processo de obtenção do financiamento implica. Para pleitear um empréstimo, é preciso enviar um pedido formal, que tem de ser acompanhado de documentação específica de acordo com a modalidade de financiamento – o banco oferece 11 produtos diferentes, cada um com linhas de financiamento específicas. Esse documento inicial tem que conter dados gerais sobre a operação e dados específicos sobre o projeto em questão, incluindo informações sobre os aspectos econômicos e financeiros da empresa e do seu mercado de atuação; e sobre os aspectos jurídicos, com todos os estudos e licenças de operação e meio ambiente emitidos pelos órgãos responsáveis, como o IBAMA ou a Secretaria de Meio Ambiente.

Caso o projeto apresente algum impacto ambiental, são negociadas medidas de compensação através de outras linhas de apoio paralelas oferecidas pelo BNDES, voltadas ao meio ambiente. A empresa também responde a um questionário sobre os aspectos e impactos sociais da empresa e do projeto. Assim, o Comitê de Enquadramento e Crédito do BNDES, formado pelos 23 superintendentes do banco, classifica a operação com base nos riscos ambientais apresentados na proposta.

Só então o banco prossegue com a aprovação e a contratação do financiamento do projeto pela diretoria, formada pelo presidente, vice e sete diretores do BNDES. O contrato de financiamento não é disponibilizado no site do BNDES ou em outra plataforma ao alcance do público. No caso dos contratos internacionais, o o à Pública foi negado, mesmo pela Lei de o à informação.

Cláusulas são insuficientes para proteção de direitos humanos e meio ambiente

Através da análise dos 43 contratos aos quais a Pública teve o, foi possível perceber que mesmo com tantas exigências formais por parte do BNDES, as cláusulas que dizem respeito à proteção dos direitos humanos e meio ambiente são estipuladas, em sua maioria, através de parágrafos padronizados, e não garantem o cumprimento de compromissos de acordo com a especificidade dos projetos.

Por exemplo, a frase “manter em situação regular suas obrigações juntos aos órgãos do meio ambiente, durante o período de vigência deste Contrato” está presente em todos os documentos analisados, bem como “adotar, durante o período de vigência deste Contrato, as medidas e ações destinadas a evitar ou corrigir danos ao meio ambiente, segurança e medicina do trabalho que possam vir a ser causados pelo projeto”.

Não há detalhes tampouco nas Disposições Aplicáveis aos Contratos do BNDES, destinadas a todos os contratantes, que se limitam a estipular o cumprimento das obrigações estabelecidas por Lei, sem maiores acréscimos.“Até onde se sabe, não haveria uma customização. As cláusulas [socioambientais] não são desenhadas de acordo com o projeto, são cláusulas padrão”, critica Caio Borges, pesquisador da Conectas – ONG que promove os direitos humanos na África, América Latina e Ásia.

Na visão do pesquisador, o processo ideal para esses contratos envolveria três etapas: a elaboração de uma política de direitos humanos, a realização de auditoria em direitos humanos – “que criariam ferramentas operacionais [para] que essa política esteja efetivamente dentro da rotina e dos processos da empresa”, como explica Caio – e a criação mecanismos operacionais de denúncia e reclamação a exemplo das ouvidorias dos bancos multilaterais, como o Banco Mundial.

“Deve existir um canal institucional de diálogo em que uma pessoa que se sinta atingida possa ligar para o banco e dizer que aquele projeto está violando algum direito dela ou que alguma política do banco está sendo descumprida e que aquele projeto não está seguindo os procedimentos que o próprio banco estipula”, diz Caio que acredita que só assim, e com uma melhor fiscalização dos órgãos públicos responsáveis pela concessão de licença, seria possível estancar o uso de dinheiro público em projetos que descumprem as salvaguardas sócio-ambientais tanto no Brasil como em outros países.

De Belo Monte a Imperatriz: licenças questionadas

É este o caso de diversos empreendimentos que tiveram suas licenças ambientais questionadas, como a polêmica usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. Mesmo após a Justiça brasileira determinar paralisação das obras por ilegalidade no licenciamento ambiental, o BNDES não divulgou qualquer modificação ou sanção em relação aos contratos de mais de 25 bilhões de reais firmados com o consórcio responsável, a Norte Energia.

E isso em um contrato que se destaca entre outros do BNDES por haver um maior detalhamento nas condicionantes socioambientais, entre eles, a obrigação de cumprimento das diretrizes dos Princípios do Equador, estabelecidas pelo International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial. Ali se estipulam as regras para avaliações ambientais; proteção a habitats naturais; segurança de barragens; populações indígenas; reassentamento involuntário de populações; trabalho infantil, forçado ou escravo; projetos em águas internacionais e saúde e segurança no trabalho; dentre outros.

Já na construção da usina produtora de celulose da Suzano, em Imperatriz, no Maranhão, objeto de um contrato de mais de 2,7 bilhões de reais, o BNDES determinou à Suzano “adotar, durante o período de vigência deste Contrato, medidas e ações destinadas a evitar ou corrigir danos ao meio ambiente, segurança e medicina do trabalho que possam vir a ser causados pelo projeto”. Entretanto, a construção da usina, em andamento no interior do Maranhão, está envolvida na morte de três funcionários, isso após o Ministério Público do Trabalho ter constatado, seguidamente, problemas de segurança no canteiro de obras. Uma das empresas envolvidas no projeto, a Imetame, chegou a se recusar a um Termo de Ajustamento de Conduta do MPT (leia mais aqui), o que mostra como, na prática, a lei é ignorada.

Confira os 45 contratos que a Pública teve o

Clique no ícone para baixar o arquivo

 

* A série BNDES na Amazônia é uma parceria de ((o))eco com a Agência Pública

 

 

Leia também
BNDES se internacionaliza e ultraa Banco Mundial
Dois repórteres na pista dos bilhões do BNDES
Na Pan-Amazônia, o BNDES financia obras à moda brasileira

 

 

 

  • Bruno Fonseca 6x6q37

  • Jessica Mota h186f

Leia também 1b437

Notícias
21 de maio de 2025

Degradação da Amazônia cresce 163% em dois anos, enquanto desmatamento cai 54% no mesmo período 102q1e

'Saldo negativo' da proteção do bioma registrado entre 2022 e 2024 pode comprometer metas internacionais do Brasil, alertam pesquisadores do Inpe e colaboradores na revista Global Change Biology

Notícias
21 de maio de 2025

PV questiona no STF lei estadual que flexibiliza proteção ambiental em Rondônia 131a24

Ação do partido alega que dano na Reserva Extrativista Jaci-Paraná será ampliado. Ministro Cristiano Zanin já decidiu pela validade da ADI e pediu rito acelerado

Notícias
21 de maio de 2025

A incontável diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 2k2s5x

Livro recém-lançado apresenta 360 espécies de aves que ocorrem no município, entre a praia e a Serra do Mar, e coroa mais de 30 anos do Projeto Avifauna do Sesc Bertioga

Mais de ((o))eco 386al

mudanças climáticas 4jg2j

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas p4l5i

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 3p1w31

Notícias

Chuvas aumentaram em 10 vezes o desmatamento causado por eventos extremos no RS 6x3p3b

Salada Verde

Evento no RJ discute protagonismo da juventude no enfrentamento da crise climática 2g53r

política ambiental 5n5325

Notícias

Degradação da Amazônia cresce 163% em dois anos, enquanto desmatamento cai 54% no mesmo período 102q1e

Notícias

PV questiona no STF lei estadual que flexibiliza proteção ambiental em Rondônia 131a24

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas p4l5i

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 4675f

Ar Livre 503524

Notícias

O feitiço de Marrocos 6b6qw

Notícias

Morte em Yosemite 255f6x

Notícias

Calçado ideal q325u

Notícias

Cicloturismo 2u6z3

frases 6y4a65

Notícias

Frases do Meio Ambiente – Joaquin Phoenix, ator 125w5k

Notícias

Frases do Meio Ambiente – Marina Silva, política (06/11/2020) 121d2a

Notícias

11 Frases do Meio Ambiente sobre Animais 4w2t

Notícias

Frases do Meio Ambiente – David Attenborough, naturalista (01/10/2020) 3ie4n

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.