Reportagens

Clima, desmatamento e colapso: a Ilha de Páscoa é você amanhã? 6u5z

Família Schurmann examina o colapso da civilização construtora de estátuas gigantes e sua relação com o desmatamento e a mudança climática.

Observatório do Clima ·
28 de julho de 2015 · 10 anos atrás

*Por Heloisa e Vilfredo Schurmann

Ilha de Páscoa, Região de Valparaíso, Chile. Foto:
Ilha de Páscoa, Região de Valparaíso, Chile. Foto:

O que aconteceu com as árvores da Ilha de Páscoa? Há 17 anos, quando chegamos à ilha pela primeira vez, ficamos impressionados pela quase ausência de árvores. Já não havia árvores nativas, apenas reflorestamentos. Felizmente, na segunda visita, notamos um aumento na vegetação, mas mesmo assim o número de lugares descampados ainda é grande.

Um conjunto de fatores pode explicar o desmatamento da ilha que, segundo vestígios arqueológicos, era lar da maior palmeira do mundo. Para Sebastián Paolla, pesquisador e guia turístico, muito se atribui à ação do homem.

Grandes áreas foram desmatadas para utilização do solo para agricultura, durante o auge populacional da ilha, que chegou a ter por volta de 15 mil habitantes. Por ambição, competição ou mesmo falta de conhecimento, os nativos, conhecidos como rapa nui, não souberam istrar seus recursos de maneira sustentável.

Alguns arqueólogos e especialistas também argumentam que durante a construção dos moai – as gigantes e impressionantes esculturas de pedra vulcânica, a partir do ano 1000 – foram consumidos boa parte dos recursos naturais da ilha. Tanto para alimentação, pois exigiram um enorme esforço, quanto para movimentações das esculturas megalíticas sobre troncos de madeira.

Além disso, um estudo mostrou que houve uma praga de ratos na Ilha de Páscoa, trazidos em suas canoas pelos primeiros polinésios. Sem predadores, comiam as raízes, os frutos e as árvores jovens.

Sem árvores, logo os ilhéus ficaram sem material de construção, sem lenha para queimar e impossibilitados de construir canoas e anzóis para pesca. A sociedade entrou em colapso, cujo primeiro sinal foi a interrupção da construção de moais. Logo, a falta de vegetação nativa levou à erosão dos solos agrícolas. A comida diminuiu, e com ela a população. Páscoa entrou num declínio populacional que foi completado pela chegada dos europeus com suas doenças, no século 18. Em 1872, a ilha tinha apenas 111 habitantes nativos.

Os rapa nui também nos falaram que sentem cada vez que a ilha está mais fria e seca. Maeha, uma artesã local, nos disse que no ado, quando criança, era inconcebível a ideia de andar na Ilha de Páscoa de meia, calças e casacos. Hoje, sente frio mesmo nos dias mais ventosos da primavera e outono.

Para Sebastian: “o que ou na Ilha de Páscoa é o que está ando no resto do mundo.”

Este texto e este vídeo foram produzidos pela família Schurmann numa parceria com o Observatório do Clima durante a Expedição Oriente, a terceira viagem de volta ao mundo dos exploradores brasileiros. Desde 2014 os Schurmann estão refazendo os caminhos que teriam trazido os chineses à América em 1421 e procurando respostas que podem estar escondidas no Oriente há quase 600 anos. No caminho, têm visitado e revisitado lugares e populações atingidos pela mudança climática e outros problemas ambientais. Veja o primeiro vídeo do projeto aqui.

 

 

*Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. logo-observatorio-clima

 

 

Leia Também
Patagônia é uma das maiores vítimas do aquecimento
Izabella Teixeira: “Não queremos repetir meta de Copenhague”
Irresponsabilidade sempre leva à insustentabilidade

 

 

  • Observatório do Clima 6w6412

    O Observatório do Clima é uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira criada para discutir mudanças climáticas

Leia também 1b437

Reportagens
4 de junho de 2025

O adeus de Niède Guidon, a matriarca da Serra da Capivara i5r34

Arqueóloga foi uma das principais forças para criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e mudou a compreensão sobre a ocupação humana das Américas

Reportagens
4 de junho de 2025

Niède Guidon, a gigante da conservação e da pesquisa 5ce41

Em uma de suas últimas entrevistas, realizada em 2022, a arqueóloga franco-brasileira relembra sua trajetória para o Mulheres da Conservação

Colunas
4 de junho de 2025

Verão em Realengo  3zm6k

Na semana mundial do meio ambiente estaremos aqui caminhando e cantando, nos dias 06 e 07 de junho, uma sexta e um sábado, em dias muito úteis para essa jornada de transformação ecológica e energética

Mais de ((o))eco 386al

clima 21474p

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 3t1c1y

Notícias

Crise climática irá encolher o lar de anfíbios na América Latina 6vv6s

Salada Verde

Presidência da Conferência do Clima anuncia datas da “pré-COP” 5n2g32

Notícias

Mudanças climáticas irão impactar negativamente mais de 90% das espécies brasileiras 5z453o

oceanos 415a65

Reportagens

O quão pouco já vimos das profundezas do mar 6f1i1a

Salada Verde

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução 1b186g

Notícias

Projeto quer reduzir APA da Baleia-Franca, em Santa Catarina 69132m

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras 2k566y

biodiversidade 1l5w1a

Notícias

Estudo aponta multiplicação preocupante do peixe-leão no litoral brasileiro 2y2a21

Colunas

Cientistas negras viram a Maré: protagonismo e resistência na ecologia, evolução e ciências marinhas 6m1s35

Salada Verde

Brasil está entre os dez países líderes em projetos com créditos de biodiversidade 5a4z28

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 4675f

ICS 6p4522

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI 3l3w55

Notícias

Transição energética entra de forma discreta na terceira carta da Presidência da COP30 161u3k

Salada Verde

Veja como votou cada senador no projeto que implode o licenciamento ambiental 6oy3g

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 3p1w31

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.