Reportagens

Agora é oficial: 2015 foi o ano mais quente 76f33

Combinação de El Niño e mudança climática fizeram temperaturas 0,13 ºC mais altas que recorde de 2014 e 1ºC mais altas do que a média pré-industrial, confirmam agências

Cíntya Feitosa ·
20 de janeiro de 2016 · 9 anos atrás
Foto: Reprodução/Nasa.
Foto: Reprodução/Nasa.

Três agências governamentais dos EUA e do Reino Unido confirmaram de forma independente nesta quarta-feira a notícia que já era aguardada desde os últimos meses do ano ado: 2015 desbancou 2014 e foi o ano mais quente desde que os registros globais de temperatura começaram, em 1880.

Segundo a Nasa (agência espacial dos EUA) e a Noaa (istração Nacional de Oceanos e Atmosfera, também dos EUA), o ano ado teve uma média de temperatura 0,13oC mais alta do que 2014. O Met Office, serviço de meteorologia do Reino Unido, afirmou que a temperatura do ano ficou 0,75oC mais alta do que a média de 1961 a 1990. Todas as três agências apontaram – numa coincidência rara entre entidades que usam modelos e bases de dados diferentes – que o ano ado teve temperatura 1 grau Celsius mais alta do que a média pré-industrial.

O ano que ou ficou marcado por eventos climáticos extremos em todo o mundo – seca e incêndios nos EUA, recordes de temperatura no verão de países europeus, onda de calor que deixou milhares de mortos na Índia, calor acima da média na Rússia, na China e na América do Sul, com algumas capitais brasileiras batendo recordes históricos de temperatura, ciclones extratropicais como o Patricia, inundações na Ásia, entre outros.

A combinação das mudanças climáticas globais, causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, e de um forte El Niño está provavelmente por trás do tamanho do recorde – a última vez que um recorde de alta de temperatura global foi batido com tanta folga foi justamente em 1998, outro ano de El Niño forte. O El Niño é um ciclo natural de aquecimento no Oceano Pacífico, que tem um impacto sobre o clima global, elevando os termômetros.

Gavin Schmidt, diretor do Centro Goddard de Pesquisas Espaciais, diz, no entanto, que o recorde teria sido batido mesmo na ausência de um El Niño em 2015. “O ano de 2015 não começou com um El Niño”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, o impacto do fenômeno na temperatura da superfície só é sentido seis meses mais tarde. Isso ajudaria a explicar as altíssimas temperaturas de outubro, novembro e dezembro, e permite também prever que 2016 será um ano ainda mais quente que 2015. Mas não explica o restante do ano ado.

“O recorde que tivemos é apenas um sintoma da tendência de longo prazo”, afirmou. “E não temos nenhuma evidência de que a tendência de longo prazo esteja mudando nas últimas décadas.” Este século teve 15 dos 16 anos mais quentes.

Captura de Tela 2016-01-20 às 16.12.24

José Marengo, climatologista chefe de pesquisas do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), diz que muitos dos eventos climáticos vivenciados no Brasil no último ano, como inundações nas regiões Sul e Norte, calor no Centro-Oeste e seca no Sudeste e Nordeste, refletem os dados confirmados pelas agências internacionais. Segundo ele, o El Niño ainda deve atingir seu pico nos próximos meses, e os brasileiros continuarão a sentir seus efeitos. “Porém, não foi só o El Niño”, reforça o pesquisador. “O que estamos vivendo hoje é consequência de décadas de emissões de gases de efeito estufa. Os anos anteriores, que não tiveram El Niño, também foram mais quentes, não é mais atípico.”

Acordo do Clima

Na COP21, a conferência do clima das Nações Unidas que ocorreu em Paris no fim de 2015, os países de todo o mundo concordaram em agir para limitar o aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus em relação à era pré-industrial, com o esforço de buscar um limite em 1,5ºC. O “teto” em 2 graus Celsius tem como base recomendações do IPCC ( Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que alerta para a possibilidade de graves consequências das mudanças climáticas caso o mundo aqueça mais do que isso.

Para cumprir a missão, o mundo inteiro deve adotar medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa, a um ritmo acelerado. Análises sobre as metas voluntárias de redução de emissões apresentadas pelos governos às Nações Unidas mostram que caminhamos para um planeta de 2,7ºC a 3,5ºC mais quente do que era antes da industrialização.

Os cientistas da Nasa e da Noaa foram claros em dizer que os dados apresentados hoje não possibilitam a projeção para o futuro, apesar da já observada tendência de aquecimento nos últimos anos. Gavin Schmidt disse que “nada de especial aconteceu” com o que foi decidido na COP21 a partir dos números divulgados hoje. “Os dados servem para que os formuladores de políticas decidam o que fazer”, disse o pesquisador. “O importante para reverter a tendência de aquecimento é quão rápido vamos reduzir as emissões.”

José Marengo ressalta que, mesmo que haja redução significativa de emissões, as regiões mais vulneráveis precisam estar preparadas. “Com as medidas de Paris estamos pensando no clima futuro. Para os impactos que já estamos vivendo no presente, temos que pensar em medidas de adaptação.”

*Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. logo-observatorio-clima

 

Leia Também

Agenda política compromete pauta climática

COP 21 supera diferenças e chega a acordo histórico

COP 21 supera diferenças e chega a acordo histórico

 

  • Cíntya Feitosa 321i2l

Leia também 1b437

Reportagens
12 de dezembro de 2015

COP 21 supera diferenças e chega a acordo histórico 656o

Paris produz documento histórico, no qual todos os países concordam pela primeira vez em limitar o aquecimento global a menos de 2o C neste século

Reportagens
18 de janeiro de 2016

Agenda política compromete pauta climática 86v44

Cumprimento de meta de redução de emissões pode ser limitado por projetos do Legislativo e do Executivo que prejudicam pauta ambiental e atrasam adoção de renováveis

Colunas
29 de maio de 2025

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 3j1y6t

Para lideranças religiosas, os mecanismos atuais ajudam a defender a vida, protegendo segmentos importantes da sociedade e preservando a integridade da criação

Mais de ((o))eco 386al

mudanças climáticas 4jg2j

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 3j1y6t

Reportagens

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 6f1l7

Notícias

“O poder da juventude está em aproximar realidades cotidianas dos espaços de decisão” 5i55

Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 9106o

clima 21474p

Notícias

Crise climática irá encolher o lar de anfíbios na América Latina 6vv6s

Salada Verde

Presidência da Conferência do Clima anuncia datas da “pré-COP” 5n2g32

Notícias

Mudanças climáticas irão impactar negativamente mais de 90% das espécies brasileiras 5z453o

Notícias

Entenda o que é o “Campeão Climático” anunciado por Lula para a COP30 3f54j

política ambiental 5n5325

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 3j1y6t

Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 9106o

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso o1s2e

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 3k1x1u

Caixa Postal g5y6t

Análises

Os oportunistas da notícia 3m5r59

Análises

O MT Ilegal 4p338

Análises

Cadâ a pressa da licença ambiental? 3u6f47

Análises

Biomas esquecidos 4qt19

Deixe uma respostaCancelar resposta 2s56o

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 3wi3c

  1. "Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que garante o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas necessidades.." Vejam novo post no blog Café&Finanças http://cafeefinancas.blogspot.com.br
    bjocas carinhosas