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As ariranhas estão voltando à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã 3f286d

Animais praticamente desapareceram, perseguidos devido à pele, mas hoje a população está se expandindo nesta reserva no interior do Amazonas.

Vandré Fonseca ·
19 de agosto de 2015 · 10 anos atrás
Grupo de ariranhas visto do primeiro semestre de 2015. Foto: André Coelho
Grupo de ariranhas visto no primeiro semestre de 2015. Foto: André Coelho

Imagens em sequência de uma armadilha fotográfica mostram, primeiro, uma ariranha (Pteronura brasiliensis) adulta saindo da toca, em seguida aparecem dois filhotes. A toca é bastante movimentada e por ali am ainda outros adultos. Os animais foram fotografados durante o monitoramento realizado pelo biólogo André Giovanni Coelho, do Instituto Mamirauá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, interior do Amazonas, distante 650 quilômetros da capital do estado.

Coelho começou o levantamento populacional da espécie em Amanã há pouco tempo, trabalha desde novembro. Mas as observações e registros que fez já comprovam um comportamento que já havia sido percebido por outros pesquisadores no início dos anos 2000: as ariranhas estão voltando, elas que andavam sumidas da reserva desde o final da década de 1960 e início da década de 1970, quando ainda eram caçadas para virar casaco de pele.

“Pescadores nem conhecem mais a ariranha”, conta André Coelho. “Os pais e avôs deles caçavam e diziam que a pele era valorizada, mas eles mesmo não conheciam. São pessoas na casa dos 30 anos”.

Além de imagens das armadilhas fotográficas, Coelho fez também um vídeo de um grupo de ariranhas na beira de um rio. Por enquanto, imagens e observação são os instrumentos utilizados para encontrar os bichos na floresta, mas dentro de alguns meses, quando a região estiver seca, os pesquisadores pretendem acompanhar os animais por telemetria.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas
Pesquisador André Coelho em atividade de campo. Foto: Amanda Lelis. Equipe em atividade de campo  - credito Amanda Lelis-2.JPG
Durante atividade de campo, a equipe monitora sítios utilizados pelas ariranhas, como essa loca abandonada. Foto: Amanda Lelis.
Foto: Amanda Lelis Armadilhas fotográficas são utilizadas para colaborar com o registro de ariranhas. Foto: Amanda Lelis.
Dados dos grupos de animais encontrados são registrados, como tamanho do grupo, quantidade de machos e fêmeas, filhotes, entre outras informações - credito Amanda Lelis-6.JPG

 

Nesses primeiros meses de trabalho foram encontrados oito novos grupos de animais. Foram registrados também grupos em três igarapés onde pesquisadores já haviam estado, entre 2004 e 2008, sem nunca terem avistado um animal da espécie por ali. De acordo com o pesquisador, hoje já existem ariranhas em quase todos principais igarapés que desaguam no Lago de Amanã. Para André Coelho, esses novos registros demonstram que a população da espécie continua a crescer.

Amanã é uma reserva estadual, que cobre 2,35 milhões de hectares, maior que o estado de Sergipe. Ela fica entre o Parque Nacional do Jaú e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. Com áreas de várzea, que alagam durante boa parte do ano, e também de terra firme, possui ambientes adequados para a ariranha.

A ariranha se destaca em relação a outras espécies de lontras. Ela é maior do que a parente encontrada desde o Uruguai até o México, a lontra-neotropical (Lontra longicaudis). Por isso é chamada também de “lontra-gigante”. O macho pode chegar a 1,8 metros de comprimento e pesar mais de 40 quilos, enquanto a lontra-neotropical não chega a 1,4 metros.

Outra diferença em relação a outras espécies da mesma família é que a ariranha vive em grupos que podem chegar a 16 indivíduos, enquanto outras lontras são mais solitárias. Pesquisas demonstraram que as ariranhas desenvolveram também um repertório de vocalizações, que serve para a interação do grupo.

É um animal territorialista, que se agita bastante quando estranhos se aproximam. Na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), ela aparece como espécie ameaçada. Na lista nacional, é considerada vulnerável. Uma das preocupações é quanto a possibilidade de uma população crescente de ariranhas provocar problemas com comunidades ribeirinhas, que buscam os mesmos peixes.

Grupo de ariranhas visto do primeiro semestre de 2015. Foto: André Coelho
As ariranhas são sociais. Foto: André Coelho

 

*Este texto é original do blog Observatório de UCs, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. observatorio-ucslogo

 

 

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  • Vandré Fonseca 5j195d

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

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Comentários 5 635t5h

  1. Carol Cheida diz:

    Andrezinho, que demais! Parabéns!!!! Muito sucesso por aí, pantaneiro! Abração!


  2. George diz:

    Muito bom, mas notem quanto tempo demora para a população se reestabelecer! A taxa de reprodução dos grupos é muito lenta, e piora onde há contato com moradores locais.


  3. Cassia diz:

    Tão bom poder ler uma notícia assim. Deixa a dia um pouco melhor saber que em algum lugar o homem não está destruindo.


  4. Marilia diz:

    São animais muito observadores e interessantes. Imagens muito boas.