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INPE monitora desmatamento em mais quatro biomas, mas verba acaba em 2022 2m184t

Este ano, graças a aporte do Fundo Amazônia, o INPE ará a monitorar o desmatamento anual no Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa. Porém, a continuidade deste monitoramento é incerta

Jenny Gonzales ·
19 de novembro de 2019 · 6 anos atrás
  • Publicado originalmente por Mongabay 71262b

Área de lavoura contígua a trecho de Mata Atlântica no Parque Nacional do Iguaçu, Paraná. Foto: Xavier Bartaburu.

Desde 2012, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) vem tentando levantar fundos para monitorar o desmatamento sistemático de todos os biomas brasileiros, estendendo sua capacidade de mapeamento para além da Amazônia.

Sem verbas federais para isso, o instituto buscou recursos fora do governo. Em 2014, obteve dinheiro do Banco Mundial até 2020 para criar um sistema de monitoramento no Cerrado – considerado a savana mais biodiversa do mundo, mas ameaçado pelo rápido avanço da fronteira do agronegócio.

Em janeiro deste ano, o INPE finalmente conseguiu recursos para mapear o desmatamento usando o sistema de satélite Prodes nos outros quatro biomas brasileiros – Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa. O financiamento, aprovado em 2018, veio do Fundo Amazônia, fornecido sobretudo pela Noruega como um meio de compensar as emissões de carbono provenientes da produção de petróleo do país nórdico.

Paisagem de caatinga na região de Quixadá, Ceará. Foto: André Roviralta / VisualHunt / CC BY-NC-SA.

“Consideramos importante ter um retrato completo do desmatamento no país, para saber o que está acontecendo em todos os biomas, não apenas em um”, diz Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais biomas do INPE. “Do contrário, o Brasil é representado apenas por uma única região. E, como signatário de convenções climáticas, o país precisa enviar relatórios anuais completos de desmatamento se quisermos obter recursos do Fundo Verde para o Clima (GCF, na sigla em inglês).”

O Pantanal é um bom exemplo do porquê é necessário monitorar o desmatamento em todos os biomas brasileiros. Em outubro, a região – que é a mais extensa área inundável tropical do mundo – teve o maior número mensal de incêndios nos últimos 17 anos. No total, 2.430 focos foram registrados, segundo dados do INPE. De 27 de outubro a 9 de novembro, o fogo consumiu 1.730 quilômetros quadrados de vegetação nativa. Coletar esses dados é essencial para verificar se as promessas de corte de emissões de carbono do Brasil no Acordo de Paris estão sendo cumpridas.

Estima-se que o programa de monitoramento dos quatro novos biomas custe R$ 49,8 milhões e dure até 2022. O financiamento agora será afetado pela recente suspensão das contribuições da Noruega ao Fundo Amazônia – uma forma que o país encontrou de demonstrar seu descontentamento com as políticas antiambientais do presidente Jair Bolsonaro.

Paisagem de Pampa próxima a Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Foto: Eduardo Amorim / Visualhunt.com / CC BY-NC-SA.

Depois de 2022, “continuaremos insistindo junto ao governo brasileiro que não podemos depender de recursos externos para monitorar [o desmatamento] no país [inteiro]. Até agora, o INPE só recebeu dinheiro do governo federal para mapear a Amazônia. É o país, contudo, que precisa subsidiar este trabalho [o monitoramento de todos os biomas] regularmente”, diz Almeida, que, no entanto, já considera a possibilidade de um revés. “Se não conseguirmos, continuaremos buscando fundos de clima e preservação” em outros lugares.

De acordo com o pesquisador do INPE, os primeiros dados serão divulgados em dezembro, quando será possível ver quanta vegetação foi perdida nos quatro biomas entre 2016 e 2019. A partir de 2020, serão publicados relatórios anuais.

“Já temos mais de 90% dos dados totais da Caatinga e da Mata Atlântica”, diz Almeida. “E, no caso do Pantanal e do Pampa, podemos adiantar que foram suprimidos 15,5% e 43,8% da vegetação nativa entre 2000 e 2016.

“Ainda há pressão de desmatamento nesses quatro biomas, embora não com a mesma intensidade que no Cerrado e na Amazônia”, conclui o pesquisador do INPE.

Tradução: Eloise de Vylder

*Reportagem publicada originalmente no Mongabay e republicada por ((o))eco.

 

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